Autoridades do Vaticano e da cúpula católica italiana foram cautelosos em suas reações iniciais ao anúncio, feito na quinta por cientistas dos Estados Unidos, de que pesquisadores haviam animado uma bactéria com DNA criado pelo homem.
Advertiram os cientistas para a responsabilidade ética do progresso e lembraram que a forma como a inovação será aplicada no futuro é crucial.
O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, referiu-se à célula sintética como um “resultado interessante”, mas destacou que “deve ter regras, como tudo o que toca o coração da vida”. O jornal reconhece que a engenharia genética pode fazer o bem, mas que atua num “terreno muito frágil”.
“Se for usada para o bem, para tratar patologias, só podemos ser a favor”, disse o monsenhor Rino Fisichella, a principal autoridade em bioética do Vaticano. “Se se mostrar… inútil para a dignidade da pessoa, então nosso julgamento mudará”.
“Olhamos para a ciência com grande interesse. Mas pensamos, acima de tudo, no significado que deve ser dado à vida”, disse Fisichella, que chefia a Academia Pontifícia da Vida.
Um alto cardeal da Igreja italiana, Angelo Bagnasco, disse que a invenção “é mais um sinal da inteligência, o dom de Deus para a compreensão da criação e para melhor poder governá-la”, de acordo com as agências Ansa e Apcom. “Por outro lado, a inteligência nunca pode vir sem responsabilidade”.
Outra autoridade da cúpula católica italiana, o bispo Domenico Mogavero, manifestou o temor de que os cientistas se sintam tentados a “brincar de Deus”.
“Fingir ser Deus e imitar seu poder da criação é um risco enorme que pode mergulhar os homens na barbárie”, disse ele ao jornal La Stampa. Os cientistas “nunca devem se esquecer de que só existe um criador: Deus”. Mogavero também disse que é perigoso que a tecnologia caia em mãos erradas.
A preocupação do uso da técnica do DNA sintético para a produção de armas biológicas também chegou ao governo dos EUA. O presidente Barack Obama pediu a seus assessores de bioética um relatório sobre as possíveis consequências, e a Comissão de Energia e Comércio da Câmara de Representantes marcou uma audiência sobre o tema para a próxima semana.
Informações do Estadão Online