A informação contrariou a versão apresentada pela polícia, que apontava para o uso de drogas. Isso instigou revolta nos moradores de São Domingos, deixando o clima ainda mais tenso na cidade.
Mais de 1.500 pessoas foram às ruas em passeata com diversos cartazes e palavra de ordem pedindo justiça. Primeiro, os manifestantes tentaram invadir a delegacia para linchar o policial Marcelo Silva Souza e o guarda municipal José Roberto Martins, conhecido como “Chico”. Eles gritavam palavras de ordem: “Queremos Chico! Queremos Marcelo!”.
As tentativas do delegado substituto Jorge Umbelino para acalmar os ânimos foram em vão. Ele, então, solicitou o apoio das polícias Civil e Militar das cidades vizinhas que foram chegando aos poucos, vindas de Santa Luz, Valente, Conceição do Coité e Serrinha.
Os manifestantes depredaram o carro da Polícia Civil e viraram o veículo do carcereiro “Chico”, que estava em frente à Delegacia. Nessa ação, uma repórter do jornal A Tarde, que fazia a cobertura da manifestação, foi atingida por uma das pedras jogadas contra o carro. Ainda Insatisfeitos, tentaram atear fogo ao carro, mas foram impedidos pelos próprios manifestantes sob o risco de atingir as residências próximo a delegacia.
Fato inusitado
Um fato inusitado aconteceu: os manifestantes empurraram o carro do carcereiro até a praça principal da cidade, em frente à prefeitura, e atearam fogo. Sob protestos e palavras de ordem, a população assistiu o carro ser devorado pelas chamas.
De volta à delegacia, os manifestantes tentaram invadir novamente, sem sucesso. A situação só melhorou quando, em negociação com o Capitão PM Lessa, acordaram que uma representante dos revoltados entraria para constatar que nem o policial Marcelo nem o guarda se encontravam na delegacia.
Revolta da população
Enquanto a manifestação acontecia, populares mostravam indignação. “Essa cidade não tem nada. Não tem juiz, não tem promotor, não tem delegado e não tem prefeito, porque ele quase não fica aqui” desabafa uma irmã de Sidinei, mas disse não apoiar a população fazer justiça com as próprias mãos.
Surpreso, o empresário José Valdo Carneiro Cunha conta que nunca viu esse tipo de manifestação em São Domingos. “Eu nunca vi isso na minha terra, é um absurdo um negócio deste. Também… Tiraram a vida de um morador, né? Por muito que ele (Sidinei) merecesse, nada justifica. Para isso tem a justiça para agir”, declarou.
“Eu estou revoltado. Nada, nada paga o preço de uma vida. Ele (Sidinei) era meu amigo. Colocar fogo no carro não traz ele de volta, né? mas ajuda a denunciar o absurdo que aconteceu”, justifica uma das pessoas que colocou fogo no carro e não quis se identificar.
O vereador Genival achou justa a manifestação. “No nosso entendimento, um policial é para proteger o cidadão e não trazer violência para a população”, ponderou. O vereador diz que já chegou a pedir o afastamento do policial Marcelo Silva. “Antes que o mal cresça, se corta a cabeça. Não foi feito, e nós estamos passando hoje por esse clima de violência”, acrescentou.
Carregando um cartaz com os dizeres “chega de violência”, a aposentada Valdelice Ferreira de Santana chorava enquanto caminhava. Esse protesto não era somente pela morte de Sidinei. Ela conta com lágrimas nos olhos que o filho, um vendedor ambulante de doces, foi espancado com coronhadas de revólver e preso pelo policial Marcelo Silva por motivo banal.
No final das manifestações, o coordenador Regional da 15ª Coorpin (Coordenadoria de Polícia do Interior) Dr. Fábio Santos da Silva se manifestou. “Essas manifestações são naturais, desde que sejam pacíficas. A polícia civil está apurando o fato criminoso, ouvindo todas as testemunhas. Agora, nós estamos aguardando um laudo definitivo do DPT (Departamento de Polícia Técnica) onde vai informar a causa mortis”, relata o coordenador.
O delegado Fábio afirma que o policial Marcelo foi afastado do cargo e irá responder a um inquérito administrativo e criminal.
Sepultamento
O sepultamento de Sidinei Rocha aconteceu às 14h30min. No trajeto do cortejo fúnebre houve uma parada com o caixão em frente à prefeitura. Os manifestantes gritaram palavras de ordem cobrando posicionamento do prefeito Izaque Júnior, que não se encontrava na cidade.
Emocionados, os pais, irmãos e familiares da vítima passaram mal e foram socorridas pelos carros do jornal A Tarde e de um morador. Eles foram internados no Hospital da cidade. Informações e foto do Noticias do Sisal.