Sempre houve curiosidade das pessoas para saber que jornal era aquele e quem seria a mulher que aparecia na página.
Segundo o estudioso do tema João de Souza Lima, de Paulo Afonso, “conversando com um amigo, grande pesquisador do cangaço, ele disse ser ela uma miss Brasil, informação vaga e insegura”. Ele acrescenta:
“Quando comecei a pesquisar sobre o coronel João Sá, deputado constituinte da Bahia, figura histórica da cidade de Jeremoabo e um dos maiores coiteiros do cangaço em todo território baiano, descobri na sua fazenda Espaduada alguns documentos que teimavam em permanecer intactos, mesmo estando cercados por cupins devoradores. Muita coisa havia se perdido e, dentre as poucas que sobreviveram, estava lá o jornal que tanto prendia minha curiosidade: A Noite Ilustrada”.
Explica João de Souza Lim ainda que “na capa não é uma miss e também não é brasileira, ela é uma modelo e no texto da capa diz o seguinte: A SEREIA E SUA REDE… ANNA EVERS EXHIBINDO UM FORMOSO MODELO PRAIANO EM SANTA MÔNICA, CALIFÓRNIA (vide página 32)”.
João diz que na página 32 do jornal tem a foto da modelo. Na verdade Lampião não está naquele momento lendo o jornal; ele está apenas fazendo pose para ser fotografado. A foto da modelo é a capa do jornal e Lampião tem para sua visão a contracapa.
Na capa tem as informações: Director: Gil Pereira – Gerente: Vasco Lima- 27-5-1936- N. 354 – CAPITAL 400 rs.- ESTADOS 500rs.
Segundo depoimentos das cangaceiras Aristeia e Dadá, as fotos feitas por Benjamin Abraão foram entre junho e julho de 1936, portanto um mês, ou dois, depois do lançamento do jornal, que tem a data de 27 de maio de 1936.
O jornal tem 40 páginas, dezenas de excelentes fotografias e propagandas de cremes, remédios, loções e veneno para insetos. Dentre as propagandas citadas, algumas coisas que ainda temos na atualidade, como: Vick Vaporub, Canetas Parker, Emulsão Scott, Leite de Colônia, Leite Condensado Marca Moça, Gillette, Pastilhas Valda, General Eletric, Sal de Fruta ENO e Creme Dental Colgate.
Leitura e poesia
“Li todo o jornal e pude ter uma idéia do que circulava nas reportagens da época”, diz o pesquisador. “O jornal faz parte de meu acervo particular, porém servirá para quem estuda as histórias do Brasil, principalmente a história do Nordeste e está à disposição para quem interessar”, acrescenta.
“Para as lentes eternas de Benjamin Abraão e a posteridade da fotografia brasileira, repousa uma mulher que acaricia dois cachorros e uma modelo que figura em páginas hoje amareladas pelo tempo”, descreve poeticamente João de Souza Lima.
“As noticias guardadas atiçam a curiosidade de quem pesquisa, o achado alegra a visão de quem acha o que procura, o olhar enigmático nega a visão de quem lê na pose que perpetua o contexto histórico de uma simples fotografia, retratos da vida, imagens de uma época, figuras infinitas”.
Da redação do Interior da Bahia – de material enviado por João de Souza Lima