O filme tem a assinatura do cineasta Renaildo Pereira dos Santos, ou Reizinho, como é conhecido e vem sendo gestado desde 2002, quando ele concluiu a graduação em História na Universidade Federal da Bahia – UFBA.
Aos 42 anos, Reizinho conta ter pensado em continuar os estudos, especialmente um dos seus temas favoritos, a ditadura militar. Foi sugerido por um colega que, no mestrado, resgatasse a memória de Lamarca, morto em Pintada, município de Ipupiara, cidade próxima à sua Ibotirama, onde nasceu e é professor.
Reizinho gostou da ideia e começou a percorrer a região em busca de depoimentos dos que conviveram com o guerrilheiro, revivendo a história da perseguição que povoava seu imaginário desde menino. Foi quando percebeu que o material coletado dava um filme.
Porém, faltavam-lhe os recursos e as filmagens só tiveram início em 2007, com apoio da produtora Portfolium Laboratório de Imagens, de Antônio Olavo. Nos finais de semana, quando não estava dando aulas de História, ele ia fazer as entrevistas. Resolveu incluir na obra a trajetória de José Campos Barreto, o Zequinha, companheiro do MR-8 que abrigou Lamarca quando ele chegou fugido, em 1971, a Brotas de Macaúbas, embrenhando-se na região de Buriti Cristalino.
Do Buriti, em Brotas de Macaúbas, onde Lamarca, Zequinha e outros companheiros estavam, até o povoado de Pintada, onde o capitão e Zequinha morreram, um período de dois meses – de julho a agosto – a região viveu sob o medo dos 200 militares envolvidos na Operação Pajuçara. Essa é a tônica do documentário “Do Buriti a Pintada – Lamarca e Zequinha na Bahia”, com narração do ator Paulo Betti.
O trabalho de Reizinho tem importância histórica, que ele define com simplicidade. “Quis mostrar o lado humano e sonhador dessas pessoas, sem questionar se estavam certas ou erradas”, resume.
Terror no sertão
O Buriti do título é uma referência ao povoado Buriti Cristalino, município de Brotas de Macaúbas, onde se deu o cerco militar, as mortes do professor Santa Bárbara e Otoniel Barreto, prisões e torturas inomináveis, inclusive do pai de Zequinha, José Campos Barreto, que foi dependurado de cabeça para baixo para confessar o que não sabia.
Tempos de terror militar no sertão de Brotas de Macaúbas. Foi no Buriti Cristalino que Olderico Barreto resistiu à bala e foi ferido no rosto – um heróico sobrevivente.
Pintada do título é o povoado do município de Ipupiara, em cuja caatinga se concluiu o cerco e assassinato de Lamarca e Zequinha. O documentário contém depoimentos de pessoas que conviveram com eles no sertão da Bahia, acompanharam a trajetória e testemunharam a chegada da repressão militar.
Da redação, com informação do blog chapadadiamantinaemfoco.