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“1798 Revolta dos Búzios”, um filme que renovou os ideais do Iluminismo

Contar a história de uma revolução que a própria história havia esquecido. Contar uma história cujos principais personagens são negros que se insurgiram contra o regime da Coroa. Montar um filme com poucas fontes de pesquisa e sem um acervo iconográfico disponível, mas ainda assim torná-lo atraente para o grande público.

Foi isso que o cineasta Antônio Olavo conseguiu fazer em 1798 Revolta dos Búzios, um filme que narra a história de uma insurreição que aconteceu na Bahia no final do século XVIII, também conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates, que avançou pelo país inspirada nos ideais do Iluminismo.

E esse foi um dos motivos que o filme entrou no Circuito Comercial do cinema nacional, sendo exibido em dez capitais brasileiras na primeira semana, e mais três cidades do interior do Paraná e São Paulo. E para premiar o público, o documentário dobrou em nove capitais brasileiras na semana seguinte e vem sendo aplaudido de pé no final de cada exibição, certamente por isso avançou para a quarta semana em cartaz.

Com 1798 Revolta dos Búzios, Antônio Olavo entra definitivamente no seleto grupo dos grandes cineastas baianos pós Cinema Novo, notadamente pela sua sensibilidade em “pescar” e produzir trabalhos que tocam na alma do povo.

Com uma narrativa didática e de fácil percepção, o filme começa e termina com a mesma performance, prendendo a atenção de quem se debruça na frente das telas. A coragem e resistência de Luiz Gonzaga, Lucas Dantas, João de Deus e Manuel Faustino contagia o público, que reativa o seu sentimento de patriotismo adormecido. E é nessa pegada que o diretor consegue prender o espectador, tocando na sua alma e fazendo-o se sentir um pouco dos quatro heróis negros libertários.

Mas se tudo isso chama a atenção, o recurso utilizado pelo cineasta para ilustrar as passagens também mostra uma mistura de criatividade e riqueza de detalhes, como a utilização de formigas em movimento dando uma ideia de preparação para a luta, ou as pegadas de homens se dirigindo para as reuniões, ou mesmo os depoimentos dos atores representando os heróis negros nos seus momentos de tensão na defesa de seus ideais.

Nas imagens do filme não aparece Napoleão, porque não é sobre a Revolução Francesa, mas Olavo consegue resgatar aqueles ideais através dos negros heróis na defesa de uma República Bahinense, livre da escravidão e com novas regras comerciais.

Por fim, com sutileza, o diretor consegue ilustrar um momento triste com a execução dos quatro heróis negros sem que o público se depare com cenas chocantes. E fecha provocando um sentimento de esperança, de que vale a pena lutar, mesmo que seja para as gerações futuras.

Por Evandro Matos (Jornalista, vencedor do Prêmio Coelba de Jornalismo e Prêmio BNB de Jornalismo)

Fotos: redes sociais

 

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