O Globo Repórter Personalidades desta sexta-feira (29) destacou a trajetória de uma das maiores vozes do Brasil: Alcione. O programa revela os caminhos que fizeram da cantora um dos grandes nomes da música brasileira. Saiba mais abaixo.
Primeira vez no palco
A primeira vez que Alcione subiu em um palco para cantar foi em São Luís do Maranhão, onde nasceu. Era noite de baile de debutante, no Grêmio Lítero Recreativo Português, um dos lugares mais tradicionais da época, frequentado pela alta sociedade.
A apresentação original seria da orquestra Jazz Guarani, comandada por seu pai. No entanto, o cantor ficou doente, e o baile corria risco de não acontecer. Foi então que, o irmão pediu para o pai deixar Alcione cantar. Ela também insistiu e, quando, a menina de apenas 12 anos soltou a voz, o que era um baile virou um show.
“Eu comecei a cantar ‘Ao ver passar por mim, pombinhas brancas’. Eu era fã da Ângela Maria, Dalva de Oliveira. E aí, todo mundo parou de dançar, começou a me aplaudir e não pararam. É o que eu estou fazendo até hoje (risos)”, relembra a cantora.
Jornada como professora
Nos anos 1950, o talento de Alcione já aflorava, mas os palcos tiveram que esperar. Nos arquivos do antigo Instituto de Educação de São Luís, o Globo Repórter encontrou registros de sua formação no curso normal. O pai, João Carlos, desejava que a filha fosse professora.
Dona Regina, Dona Maria da Graça e Dona Cremilda eram colegas de turma de Alcione.
“Minha amiga sentava lá atrás, que era para o professor não perturbar ela. Era da turma do fundão”, conta Cremilda Braga, professora aposentada.
Depois de formada, Alcione chegou a dar aulas e prometeu aos alunos que tocaria trompete para eles se a turma fizesse silêncio. A direção da escola não gostou e ela acabou demitida.
“Foi chamada pela direção, então ela pediu: ‘não dá para mim, se não os meninos não vão aprender’. O resultado: ganhou uma passagem e foi embora para o Rio de Janeiro se aventurar. Foi o início de tudo”, afirma a colega de turma.
Início da carreira de cantora
O começo da carreira artística de Alcione não foi fácil. A cantora iniciou sua trajetória em uma boate de Copacabana, no famoso Beco das Garrafas. Foi na noite que ela ganhou experiência, conheceu o público, testou vários estilos musicais e foi descobrindo do que era capaz.
“Na verdade, eu aprendi a cantar cantando, né? Você canta tanto que aprende. A lidar com o público, a lidar com a sua voz”, relata Alcione.
Foi nesse cenário que Roberto Menescal, que era diretor artístico de uma gravadora, a conheceu. Ele estava à procura de uma sambista para concorrer com artistas como Beth Carvalho e Clara Nunes.
“Jair Rodrigues falou assim: ‘Olha, tem uma muito bacana assim, mas não canta samba’. Fui lá ver o show, ela tocava piston e cantava em inglês. Eu disse: ‘estou precisando de uma sambista’. E ela falou: ‘Não sou sambista, não. Já vou te avisando'”, lembra Menescal.
Mas Menescal acabou convencendo Alcione a fazer um teste.
“Eu disse: vamos começar então pelo samba, e depois eu vou procurando os meus caminhos”, diz Alcione.
Após alguns compactos, logo veio o primeiro LP: A Voz do Samba, que foi lançado em 1975. É deste primeiro disco que surgiu a música que eternizou Alcione. “Não Deixa o Sambar Morrer” ficou 22 semanas no topo das paradas de sucesso.
“Tinha reunião de vendedores do Brasil inteiro. Eu peguei o baiano, que era meu amigo: ‘Quando eu tocar, você fala incrível’. Ele exagerou bastante. Então o primeiro disco já foi sucesso”, destaca Menescal.
Apresentadora de TV?
O nome do quarto disco de Alcione virou um programa de televisão na Globo, em 1979. O programa, intitulado Alerta Geral, foi criado com a participação de Ricardo Cravo Albin, um dos maiores conhecedores de MPB no Brasil.
“Foi histórico. Foi a defesa da música popular brasileira dentro de uma televisão. Uma alerta geral para o MBP”, lembra Cravo Albin.
Cravo Albin também comenta a escolha de Alcione para apresentar o programa.
“Ela era uma cantora nova, vinda do Nordeste heroico, e uma cantora de grande presença, de grande voz e de grande possibilidade. De fato, tudo isso ocorreu”, destaca.
Por G1/Globo Repórter