
A Associação Cultural dos Espadeiros de Senhor do Bonfim (ACESB) divulgou uma nota pública reiterando que a tradicional Guerra de Espadas segue proibida por decisão judicial.
Com base na Lei Federal nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), a fabricação, comercialização e queima das espadas estão enquadradas como crime e sujeitas a sanções penais.
A nota, entretanto, não ecoa apenas resignação, mas também reafirma o empenho da associação em buscar a regulamentação da prática por meios legais, com respaldo técnico e institucional.
Durante reunião com o comandante do 6º Batalhão da Polícia Militar da Bahia, Tenente-Coronel Mascarenhas, e com o promotor de Justiça Felipe Pazzola, do Ministério Público da Bahia, a ACESB ouviu novamente o que já sabia: a proibição está mantida e será fiscalizada com rigor. Em contrapartida, a associação recebeu sinal verde para seguir dialogando com os órgãos competentes em busca de um modelo legal que permita a continuidade da prática. Um passo político e simbólico importante, sobretudo diante da criminalização de uma manifestação com raízes culturais profundas.
A ACESB aposta em caminhos técnicos e estratégicos. Assinou recentemente um acordo de Cooperação Técnica com os maiores fabricantes de fogos de artifício do país, estabelecendo protocolos de segurança baseados em normas do Exército Brasileiro. Foi reconhecida como de Utilidade Pública tanto municipal quanto estadual, e tem mobilizado espadeiros, simpatizantes e instituições na defesa do que considera “um direito histórico”: a prática da Guerra de Espadas com segurança, legalidade e respeito à cultura.
Na nota, a associação pede que a população evite soltar espadas este ano, especialmente nas ruas Costa Pinto e Júlio Silva, pontos tradicionais de aglomeração. O apelo é também para evitar prejuízos à população residente — muitos idosos e pessoas com fragilidade de saúde — e para proteger o patrimônio público e privado de eventuais acidentes. A mensagem é clara: resistir hoje significa não acender o pavio. É preservar a memória para reacendê-la legalmente no futuro.
Não há ingenuidade na postura da ACESB. O gesto de cautela é estratégico e político. Ao recuar agora, a associação quer mostrar maturidade institucional e responsabilidade, justamente os critérios que faltaram a quem trata a cultura como caso de polícia. O São João de Senhor do Bonfim perde seu símbolo mais explosivo, mas ganha, talvez, a chance de prová-lo ainda mais necessário.
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