
A goleada sofrida diante do Flamengo, a maior da era dos pontos corridos, não ficou restrita ao vexame esportivo. Minutos depois da derrota por 8 a 0 no Maracanã, o Vitória anunciou a demissão do técnico Fábio Carille, encerrando um ciclo de apenas nove jogos, com aproveitamento de 29,6%. O treinador deixa o clube na 17ª colocação, dentro da zona de rebaixamento, com 19 pontos em 21 rodadas. A direção rubro-negra designou Rodrigo Chagas, comandante da equipe sub-20, para assumir interinamente o time profissional já contra o Atlético-MG, no próximo domingo, no Barradão.
A decisão traduz um acúmulo de erros técnicos e estratégicos. Carille chegou como solução emergencial após a saída de Thiago Carpini, mas nunca conseguiu organizar a equipe, que oscilou entre formações improvisadas e uma postura excessivamente reativa. Os números são eloquentes: apenas oito gols marcados contra 18 sofridos durante sua gestão, além da incapacidade de competir em intensidade contra adversários diretos. A goleada sofrida no Rio não foi uma surpresa isolada, mas o colapso de um sistema previsível e frágil.
As consequências do desligamento são ambivalentes. De um lado, a saída do técnico pode oferecer alívio ao ambiente interno, já desgastado pela sequência de resultados negativos. De outro, o Vitória mergulha em instabilidade num momento decisivo da temporada, com elenco limitado e sem tempo para reconstruções profundas. A missão de Rodrigo Chagas é ingrata: resgatar a confiança de um grupo que já acumula traumas recentes e, ao mesmo tempo, buscar pontos preciosos para evitar um retorno imediato à Série B.
A leitura crítica do episódio não pode se restringir à demissão. O Vitória repete um padrão recorrente do futebol brasileiro: trocar técnicos como se fossem curativos provisórios, ignorando problemas mais profundos de gestão, elenco e planejamento. Carille fracassou, mas também herdou um clube que oscila entre projetos inconclusos e soluções improvisadas. O placar histórico no Maracanã é a fotografia de um abismo competitivo, mas o que ameaça o Vitória em 2025 não é apenas um resultado atípico: é a incapacidade crônica de aprender com os próprios erros. (Fonte: Folha do Estado da Bahia).