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Bahia registra um roubo de carga a cada dois dias; sexta à noite é o horário mais perigoso para caminhoneiros

No Brasil, foram 23 casos por dia, considerando o período de janeiro a setembro

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Nenhum momento é tão perigoso para os caminhoneiros quanto a sexta-feira à noite. Foi nesse período da semana que a maior parte dos roubos de carga foi registrada no Brasil, em 2025. Enquanto o Brasil teve 23 ocorrências por dia, na Bahia, houve um assalto a caminhões a cada dois dias.

Em 2025, o roubo de cargas tem preocupado ainda mais o setor de transportes porque os ataques cresceram 24,8%, em comparação ao primeiro semestre do ano passado. Os dados fazem parte do Relatório de Roubo de Cargas, produzido pela empresa nstech, referente aos seis primeiros meses do ano. Em todo o ano de 2024, o prejuízo com esses crimes foi de R$ 1,2 bilhão, mas o balanço deste ano ainda não está fechado.

“A cada curva não mapeada e a cada informação ignorada, criminosos ganham vantagem e o prejuízo chega em cascata: mercadorias perdidas, fretes encarecidos, vidas em risco e custos operacionais cada vez maiores”, diz o documento da empresa, que é a maior do setor de supply chain (logística) da América Latina.

O que já se sabe é que, em todo o país, foram 6.251 ocorrências de roubos de carga de janeiro até setembro, segundo o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp) – o que dá quase 23 assaltos por dia, em território nacional. A maior parte desses assaltos foram em São Paulo (2.660 situações) e no Rio de Janeiro (2.615), seguido por Pernambuco (224).

A Bahia aparece na quarta posição nacional, com 159 ocorrências. O número já é 20% maior do que o mesmo período do ano passado, quando 132 roubos foram registrados no sistema.

“A questão da segurança é uma preocupação constante dos caminhoneiros. Existe a questão da obrigatoriedade da parada para descanso que às vezes faz parar em beira de estrada e você fica sujeito às ações dos meliantes”, diz o presidente da Cooperativa de Caminhoneiros de Feira de Santana, Antônio Lima.

Cuidados

Por isso, caminhoneiros baianos que rodam tanto pelas estradas estaduais quanto federais reforçam os cuidados. “Aqui é mais tranquilo, comparado a outros estados. Assalto tem, só que bem menos que nos outros”, conta o caminhoneiro Marcos Oliveira, 26 anos.

Ele evita transitar nos locais famosos pelos assaltos. Se não tiver nenhuma rota alternativa, tenta fazer isso acompanhado – ou seja, numa espécie de comboio com outros dois ou três caminhões conhecidos. Essa é uma estratégia para afugentar ladrões.

“É assalto a mão armada mesmo. Se você está transitado devagar, numa subida, um negócio ou outro. Pelos relatos, eles colocam o carro de lado e fazem você parar. Mesmo você estando com um caminhão, que é bem maior que um carro pequeno, se o cara está armado, não tem muito o que fazer”.

O caminhoneiro Jalber Rodrigues, 38, nunca viveu uma situação de violência nas estradas, mas tem o exemplo de casa. Seu pai, que conduziu caminhões por 52 anos, até se aposentar em 2023, viveu momentos de terror nas mãos de assaltantes em três ocasiões. A primeira vez, em São Miguel das Matas (AL), chegou a ser feito refém e o caminhão só foi encontrado dois meses depois, todo adulterado.

“No segundo, o próprio ladrão tombou o caminhão dele em uma manobra. O terceiro assalto foi mais rápido, logo o caminhão apareceu. Porém, ele ficou amarrado numa árvore. De duas da tarde até 23h, ele ficou no meio do mato, sozinho”, conta. Acorrentado com um cadeado, o pai de Jalber chegou a escutar dos assaltantes que, se ele tivesse sorte, voltaria para soltá-lo. Se não tivesse, deixaria para que fosse comido pelos urubus. “Às 11h da noite, voltaram e soltaram ele”.

Os dois últimos assaltos foram na mesma região: entre o município de Ibotirama e o povoado do Javi, em Muquém do São Francisco. Nas duas ocasiões, era uma carga de óleo de cozinha, que vinha de uma fábrica localizada em Barreiras. Além de ser um produto com venda fácil e com muitos interceptadores, a estrada na época das ocorrências do pai dele tinha muitos problemas. “Tinha muito buraco. Todas as vezes, ele estava quase parando, passando em buraco. Os ladrões chegam e abordam em carro pequeno”, explica.

O próprio Jalber, por sua vez, lista as áreas mais famosas de assalto nas rotas que faz: um trecho da BR-251 que passa por Salinas (MG) e o trecho da BR-116 no Trevo de Ibó, na divisa da Bahia com Pernambuco. “Precisa redobrar a atenção e respeitar os horários de passar, procurar não passar sozinho. De comboio é sempre melhor e não passar em horário muito tarde”, diz.

Outras áreas famosas pelo risco são todo o trecho da BR-242 entre Luís Eduardo Magalhães e Itaberaba e as proximidades de Rosário, no município de São Desidério, pela BR-020.

O caminhoneiro Marcio Santiago, 47, conta que o temor é grande. Ele costuma administrar bem os horários e locais de parada, carga e descarga. “Um local de parada, para me passar segurança, deve ter uma boa estrutura: iluminação, vigilância, localização próxima de cidades, de movimentos … De preferência, (que fique) longe de algumas situações que infelizmente existem em alguns postos, como o tráfico de drogas”, acrescenta.

Perfil dos assaltos

As áreas urbanas respondem por 27,7% dos assaltos, seguidas pelas BR-101 (14,7%), BR-226 (8%) e BR-116 (6,1%). Enquanto as áreas urbanas são os pontos mais usados por quadrilhas no Sudeste, mais da metade do prejuízo na BR-101 foi no Nordeste (54,9%).

As cargas fracionadas – ou seja, com diversos tipos de mercadorias – são as mais visadas. Elas respondem por 43,8% das ocorrências no primeiro semestre, mas são seguidas diretamente pela carga alimentícia (33,3%) e de eletrônicos (10,8%), segundo o relatório da nstech.

Enquanto a região Sudeste concentrou 62,4% dos assaltos de janeiro a junho. o Nordeste continuou no segundo lugar – mesma posição que ocupava no ano passado. Só que, agora, os casos aumentaram: saíram de 15,8% no mesmo período do ano passado para 21,3%.

Entre os segmentos mais comuns de serem alvos nas estradas nordestinas, a carga fracionada acumulou 34,8% do prejuízo. Ela é seguida por cargas de eletrônicos (19,1%), higiene e limpeza (18,6%), alimentício (17,4%), defensivo agrícola (8,3%) e bebida (1,9%). Os maiores prejuízos foram nos estados de Pernambuco (34,1%) e Maranhão (33,6%). A Bahia fica atrás deles, com 17,8%.

Segundo o presidente da Cooperativa de Caminhoneiros de Feira de Santana, Antônio Lima, o problema vai desde a falta de mudanças nos caminhões até o policiamento.

“A gente não vê presença ostensiva da polícia. Além disso, em determinados caminhões, tem um módulo, que é o cérebro do caminhão, e só ele custa de R$ 30 mil a R$ 40 mil. A gente não vê melhorias para que tenha mais segurança nesses veículos”.

Em 2025, até o momento, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) localizou 442 caminhões adulterados na Bahia e recuperou outros 533. No ano passado, foram 687 adulterados e 788 recuperados, contra 526 que foram localizados adulterados em 2023 e 708 que foram recuperados.

De acordo com a chefe do núcleo de comunicação da PRF, Fernanda Maciel, a corporação se depara com diversos crimes envolvendo roubo de carga nas rodovias federais, a exemplo de saques, assaltos, roubos e furtos de veículos.

“A gente trabalha tanto na parte de prevenção desses crimes com fiscalização mais estratégica, levando em consideração as rodovias que possuem mais fluxo de veículos”, diz.

Ela recomenda que, se acontecer um roubo de carga, a PRF deve ser comunicada o quanto antes, para que a mercadoria tenha mais chances de ser recuperada. “Infelizmente, a criminalidade tem estado cada vez mais organizada. Eles vêm buscando burlar as fiscalizações e observar a rotina dos caminhoneiros. Eles sabem as rodovias em que há maior fluxo de veículos e pontos com necessidade de redução de velocidade”.

Por Correio

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