DestaqueEducação & Cultura

Crise no Enem de 2025: que lições tirar das questões ‘antecipadas’ nas redes sociais?

Mesmo com a logística de segurança cada vez mais reforçada, o acesso à informação aumentou muito com as novas tecnologias. Quantos outros Edcley Teixeira não acabaram descobrindo o caminho das pedras?

Foto com Link

Foto com Link de Direcionamento

Descrição da imagem

Clique na imagem para ser redirecionado para o site.

(Exame do Enem em 2025 / Foto: José Cruz / Agência Brasil).

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) cria polêmica desde sempre, seja pela sua imensidão inerente a um vestibular para milhões em um País desse tamanho, seja pelo seu rigor técnico, porém incompreensível para a maioria. Desde 2009, o Ministério da Educação (MEC) tenta explicar, mas não é nada óbvio para a sociedade que dois candidatos possam ter notas diferentes com a mesma quantidade de acertos.

Isso acontece porque o Enem usa a tal Teoria de Resposta ao Item (TRI) que consegue discriminar com muito mais precisão a diferença de desempenho, em especial para cursos concorridos como Medicina. A TRI dá ou tira pontos dos alunos conforme seu padrão de acertos; por exemplo, o candidato que acertou uma questão tida como difícil, mas errou a fácil, não terá uma nota tão boa. Ele é penalizado porque a metodologia entende que ele acertou a mais difícil ao acaso ou com um chute.

Para que essa informação exista, as questões devem estar ordenadas numa régua de dificuldade. O pré-teste, que está no centro da polêmica do suposto vazamento do Enem deste ano, é uma maneira de criar esses parâmetros. Ou seja, as questões são aplicadas previamente a um grupo com perfil semelhante e o resultado desses alunos serve como referência.

E são questões idênticas, sem mudar uma vírgula, para que se entenda exatamente o desempenho com determinado enunciado ou resposta. Mais uma coisa que pouca gente consegue entender – é só ver o inconformismo nas redes sociais a semana toda porque Edcley Teixeira afirmou que decorou algumas questões ao perceber que o exame da Capes era um pré-teste do Enem.

Além disso, como são testadas questões de vários anos ao mesmo tempo, é possível fazer com que todas as edições do Enem sejam comparáveis, com o mesmo nível de dificuldade. No entanto, o tempo tem mostrado que pré-testes são arriscados demais para um exame com o valor do Enem. Não que possa ser considerado um vazamento o fato de algumas questões fazerem parte de uma live (no meio de outras 90, destacadas com a mesma ênfase) ou estar em apostilas com outras centenas que não caíram na prova.

Mesmo assim, está em jogo a realização de um dos maiores sonhos da juventude brasileira, uma vaga na universidade pública. Muitas delas, em faculdades de Medicina, cuja mensalidade média na rede privada é de R$ 10 mil. Uma prova, uma nota, e você está dentro ou fora. Tem sempre alguém disposto a ganhar dinheiro explorando o sonho dos outros. Ainda mais quando são 5 milhões de sonhadores.

Em 2009, quando o Enem virou um vestibular, a preocupação maior era alguém sair da gráfica que imprimia o exame levando o caderno de questões na cueca – o que, de fato, incrivelmente aconteceu e foi denunciado pelo Estadão, cancelando a prova. Os anos foram passando e mesmo com a logística de segurança cada vez mais reforçada pelo Inep, realizaram-se inúmeros pré-testes, as informações sobre eles apareceram em livros, em documentos na internet, o acesso à informação aumentou com as novas tecnologias. Quantos outros Edcley Teixeira não acabaram descobrindo o caminho das pedras?

O que especialistas como o professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais Francisco Soares defendem é: não é preciso fazer pré-teste para manter o rigor da discriminação na seleção do Enem. Essa calibração da TRI pode ser feita depois da prova, analisando o resultado dos candidatos daquele ano. Modelos de inteligência artificial também já começam a ser usados no mundo para fazer esse serviço, como no SAT, dos Estados Unidos. Claro, esse investimento não seria rápido nem barato.

Segundo o Estadão apurou, essas possibilidades já vinham sendo discutidas no Inep e um pré-teste que seria em dezembro já foi suspenso, mas esses debates precisam ser intensificados agora. Sem pré-teste, fica mais difícil comparar os exames de cada ano e reaplicar a prova quando houver catástrofes, como a que ocorreu no Paraná. E não seria mais possível usar nota de um Enem anterior para competir pela vaga em outros anos. Mas é um preço justo a se pagar se o exame ainda quer continuar a carregar o rótulo de ter democratizado a seleção do ensino superior no País.

Por Renata Cafardo / Estadão

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo