“Filhos de João” se destaca na onda de documentários musicais brasileiros por dois motivos: joga luz sobre a criação do grupo Novos Baianos, não exatamente um nome popular hoje, e escolhe como fio condutor comentários de um Tom Zé inspiradíssimo.
O filme do diretor Henrique Dantas, que entra em cartaz na próxima sexta, é carinhoso, divertido e dedica boa parte da metragem a uma louvação a João Gilberto, que um dia visitou o apartamento que os ainda “roqueiros” baianos dividiam no Rio de Janeiro. O depoimento emocionado de Moraes Moreira sintetiza o impacto de João na rapaziada. “Ele ficou ali tocando, aquela coisa perfeita, e pensei em largar a música”, disse.
Ele e os outros acharam que nunca poderiam chegar perto daquilo que o ídolo fazia. João Gilberto mostra a eles uma “overdose” de samba, de compositores como Assis Valente, e forma a partir dali a sonoridade do grupo. O filme tem muito mais do que a bênção de João. Começa com o encontro do letrista Galvão com o músico Moraes Moreira, nos anos 1960, parceria incentivada por Tom Zé.
Paulinho Boca de Cantor, jovem mas já rodado em palcos, se junta a eles e aos poucos o grupo vai se formando. Quando se mudam para um apartamento no Rio, sua comunidade já é grandinha, com Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Dadi e muitos outros. A profissão de fé hippie é extremamente didática para as novas gerações. Unidos pela música e pelo futebol, os Novos Baianos resgataram pandeiro e cavaquinho para o público jovem e urbano.
O filme mostra como eles mudaram o Carnaval baiano, saindo em 1976 com o primeiro trio elétrico com cantores. Mesmo sem depoimentos de Baby, que não quis participar, “Filhos de João” serve como aula de MPB, retrato do sonho hippie e capítulo vital para entender o Brasil.
Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano
Produção: Brasil, 2011
Direção: Henrique Dantas
Com: Novos Baianos e Tom Zé
Quando: estreia nesta sexta-feira (22); circuito a definir
Avaliação: ótimo
Fonte: Thales de Menezes – Folha de São Paulo