Há quem ache a atitude engraçada. Mas também quem prefira passar longe da casa, como as crianças. O aposentado – que já foi radialista e técnico em eletrônica – garante que tudo começou como uma brincadeira, sem qualquer ligação com religiosidade.
Zeli Ferreira Rosse e um amigo de infância fizeram um juramento na juventude. Quem morresse primeiro ganharia o caixão do outro.
Aos 33 anos, Rosse sofreu um acidente. Estava sentado sobre uma moto parada quando foi atingido por um carro em alta velocidade. Os ferimentos o deixaram no hospital por quatro meses. Um boato sobre a morte dele se espalhou e o amigo, que vivia no Espírito Santo, encomendou o caixão por telefone a uma funerária de Governador Valadares.
“Depois que saí do hospital, tentei devolver o caixão, mas a funerária não aceitou. Acabei guardando-o em casa e dormindo nele de vez em quando, de brincadeira. Cinco anos depois, meu amigo morreu ´de verdade´. Mandei um caixão novo para ele e fiquei com o velho”, diz.
Desde então, Rosse dorme na urna. Mas só às sextas-feiras, dia que não foi escolhido por acaso. Foi quando o amigo dele foi assassinado a facadas, depois de ser confundido com outra pessoa.
“Mantenho esse costume há 23 anos. É um lugar bom para eu meditar, fazer minhas orações e pensar na vida. Quando não posso passar a noite de sexta nele, não consigo dormir”, revela Rosse.
A mulher do aposentado, a dona de casa Cleusa Pereira Rosse, de 56 anos, é quem fecha o caixão para o marido. Ela revela que nunca teve medo, mas admite que sempre achou a atitude esquisita.
“Tampo o caixão à meia-noite de sexta e abro às 6 horas de sábado. Um dia, por estar passando mal, perdi a hora e acordei com o Zeli gritando, às 6h30. Ele queria tomar café”, informou Cleusa.
Zé do Caixão
O estudante Otávio Martins Rosse, de 13 anos, mora com o avô e acha o hábito “interessante”, mas revela que a maioria dos amigos da rua não vai à casa da família. “Eles têm medo do ´Zé do Caixão´. Acham que vão encontrar assombração aqui”.
Apesar disso, o adolescente diz que ficou orgulhoso quando a escola onde estuda levou a turma da 3ª série para conhecer o avô e ouvir sua história, em fevereiro deste ano. “Foi divertido. Precisava ver a cara de espanto dos alunos. Meu avô é um mito”.
Na rua, as opiniões sobre o morador excêntrico se dividem. O ajudante de bombeiro Wilson Araújo da Silva, de 30 anos, vive ao lado da casa de ´Zé do Caixão´ desde a infância, mas só depois de adulto soube do costume do vizinho.
“Caixão é pra gente morta. Não gosto nem de pensar nisso. Fico assombrado demais”, comentou Wilson.
O ajudante de pedreiro Valdeci Gomes Barbosa, de 44 anos, é outro morador da rua São Salvador que vive ´cismado´ com o hábito do aposentado.
Informações do G1 (Foto: Divulgação).