É um clube seleto, heterogêneo e masculino, mas pode em breve ganhar pelo menos uma dezena de novos integrantes, entre eles mulheres. O “Livro dos Heróis da Pátria”, que repousa no Panteão da Pátria e da Liberdade, em Brasília, traz hoje apenas dez nomes em suas reluzentes páginas de aço, todos nascidos antes de o país se transformar em República.
Em março deste ano, a Comissão de Educação aprovou projeto que insere o nome do ex-presidente Getúlio Vargas no livro, reativando a discussão: afinal, o que dá a um vulto histórico a dimensão heróica? Ou, como lembram os historiadores, vale a pena cultuar heróis?
O dramaturgo alemão Bertolt Brecht cunhou a frase “Infeliz o país que precisa de heróis”. Mas todos os países têm os seus. Os americanos cultuam a memória dos seus chamados founding fathers (pais fundadores), como Thomas Jefferson e Benjamin Franklin. Um panteão em Paris abriga os restos mortais de célebres franceses como Voltaire e Victor Hugo. As guerras são pródigas em produzir heróis. Mas, hoje, até esse conceito – em um mundo onde o terrorismo sem face é muitas vezes o maior adversário – perdeu essência.
O modelo brasileiro, de seleção de heróis por meio de leis, não tem paralelo em outros países. Em geral, o status de herói – aliás, duramente criticado pela historiografia contemporânea – é alcançado com tempo, pelo reconhecimento do povo. No caso mais recente, da indicação de Vargas pelo senador Marconi Perillo (PSDB-GO), entra em cena outro aspecto do debate: afinal, os heróis precisam ser perfeitos, à imagem dos personagens mitológicos como Hércules e Aquiles?
A professora de História Mary Del Priore, ensina que, para se sair da vida e entrar na história – como disse Getúlio em sua famosa carta-testamento -, é preciso descartar representações falsas e estereotipadas, e se socorrer das pesquisas mais recentes. Não é assim, todavia, que os congressistas encaram a questão. Além dos quatro nomes já aprovados e aguardando inclusão no Livro dos Heróis da Pátria, há quase duas dezenas de projetos propondo novos candidatos.
Os dez nomes do livro
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), Duque de Caxias (1803-1880), Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), Plácido de Castro (1873-1908), Joaquim Marques Lisboa, o Almirante Tamandaré (1807-1897), Francisco Manoel Barroso da Silva, o Almirante Barroso (1804-1882), Dom Pedro I (1798-1834).
Espaço para mulheres no Livro de Heróis
No Senado, as propostas de inclusão de Maria Quitéria, Ana Néri e Anita Garibaldi entre os heróis nacionais podem mudar o nome do livro, que passaria a ser Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. Os projetos são de iniciativa da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT).
A feirense Maria Quitéria (1792-1853) foi heroína da Guerra da Independência. Cortou os cabelos e vestiu-se de homem para se alistar como “Soldado Medeiros” na luta pela independência do Brasil. Sua bravura lhe rendeu uma comenda entregue pessoalmente por dom Pedro I.
Também da Bahia, Ana Justina Ferreira Nery (1814-1880) foi enfermeira que acompanhou os filhos e o irmão na Guerra do Paraguai, onde prestou serviços nos hospitais militares e nas frentes de batalha. É a patrona da enfermagem do Brasil.
A catarinense Ana Maria de Jesus Ribeiro (1821-1849) é admirada no Brasil e idolatrada na Itália. Lá, uniu-se ao revolucionário Giusseppe Garibaldi. Foi soldado, enfermeira, esposa e mãe. Tornou-se assim Anita Garibaldi, a “Heroína dos Dois Mundos”.
(Com informações do Jornal do Senado)