A Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) está levantando subsídios para avaliar o resultado do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2008, divulgado nesta sexta-feira (4) pelo Inep/MEC. Para Iraildes Andrade Juliano, coordenadora de Graduação da Uefs, as notas divulgadas, por curso, podem não refletir a realidade das instituições envolvidas, em função de fatores como o boicote de estudantes às provas, o que compromete a média final.
O comparecimento dos alunos é condição para receber o diploma, entretanto, não é obrigatório que eles respondam à prova. O Inep/MEC não divulga, nesta primeira etapa, a quantidade de alunos que compareceram, mas não responderam a prova. Porém, alguns dados publicados fornecem indícios de que um número significativo de estudantes boicotou a prova, orientados pela campanha do movimento estudantil em nível nacional, que não concorda com o modelo atualmente utilizado no Enade.
Dentre os indícios apontados pela coordenadora Iraildes Juliano, está a comparação entre as médias dos alunos que estão se formando (concluintes) e os que estão com o curso ainda em andamento (ingressantes), muitos destes dos primeiros semestres. No caso do curso de História, a média geral dos concluintes foi de 5,95, bem abaixo dos ingressantes, que foi de 10,98. Situação semelhante acontece com a nota dos alunos de Engenharia Civil. Pelo menos teoricamente, salienta Iraildes Juliano, os concluintes deveriam obter notas com médias superiores aos ingressantes, mesmo considerando-se que foram aplicadas provas diferentes.
Por outro lado, nos cursos da Uefs de melhores notas, os concluintes obtiveram médias superiores às dos ingressantes. No curso de Física, por exemplo, os concluintes obtiveram a nota 35,49 e os ingressantes 14,83. Os alunos dos cursos de Historia e Geografia da Uefs, considerados de maior mobilização estudantil, tradicionalmente são os que mais aderem ao boicote às provas do Enade.
Campanhas pelo boicote
A aluna Rafaela Souza, diretora do Diretório Central dos Estudantes (DCE) argumenta que a entidade promove o boicote, inclusive através de campanhas, porque o Enade, segundo ela, não possui metodologia ideal para avaliação dos cursos de nível superior. “Isto compromete ações governamentais, como o repasse de recursos para as instituições”.
A coordenadora Iraildes Juliano chama a atenção para o fato das universidades estaduais baianas passarem por outras avaliações, inclusive do Conselho Estadual de Educação, o que resulta na autorização e permanência dos cursos. “O resultado do Enade deve ser avaliado e levado em consideração para tomada de decisões e ações visando o aperfeiçoamento das graduações, mas com análise das situações envolvidas”, ponderou.
A Uefs, destaca a coordenadora, tem promovido eventos com a participação de alunos, professores e representantes do Inep/MEC, no sentido de debater a metodologia utilizada no Enade. O modelo, lembrou, tem sofrido alterações ao longo dos anos, o que pode reforçar o questionamento feito por alunos e outros segmentos do ensino superior. Além disso, instituições como a USP e a Unicamp não participam do Enade.