Na ocasião, dezenas de repentistas comemoraram o feito nas galerias do Senado. Agora, com a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a publicação do DOU, o texto fecha o circuito burocrático e passa a valer na prática.
Com isso, os repentistas têm a jornada de trabalho regulamentada, o repente incluído na lista de profissões da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e direito à aposentadoria e aos mesmos benefícios dos demais trabalhadores brasileiros.
Foi por conta de versos impressos em dois folhetos de papel que Francisco Assis – ou Chico Assis, como ele se apresenta – decidiu aprender a ler. Para entender o que diziam o repente Tua ausência, de Severino Feitosa, e o famoso Uirapuru da saudade, de Chico Galvão, resolveu, aos 8 anos, frequentar as aulas.
Trinta e cinco anos depois, aos 43, Chico terminou a faculdade de artes. Agora, aos 47 anos, o homem que se apaixonou pelos versos cantados ainda menino e acabou dedicando toda a vida a eles, comemora uma nova conquista. Lei publicada no Diário Oficial da União (DOU) no último dia 14 regulamentou a profissão que ele escolheu: repentista.
Hoje presidente da Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do DF e Entorno (Acrespo), Chico de Assis, que nasceu em Alexandria (RN), reconhece o avanço, mas diz que ainda há muito o que fazer para legitimar o exercício do repente. “Ter a profissão regulamentada é essencial, mas agora vamos em busca de direitos previdenciários e trabalhistas. Teremos que fortalecer nossa categoria, fazer sindicatos e promover a qualificação dos repentistas”, explicou.
Entre as reivindicações está, por exemplo, o direito de receber aposentadoria por invalidez no caso de perda da voz, instrumento de trabalho de quem vive do ofício. Chico Assis também defende o resgate das tradições, como a cantoria de pé de parede, onde os artistas se apresentam em uma sala, sentados em banquinhos, diante de plateia que escolhe assuntos diversos para nortear os versos.
A regulamentação também é comemorada por jovens que se apaixonaram pelo repente, como João Santana, 30, brasiliense que se dedica à cantoria há uma década. “Comecei ouvindo os discos da minha mãe e acabei apresentando-me em festivais. Desde então, não parei mais”, contou João, que também é engenheiro florestal.