História

Brasilia 50 anos: Jacuipenses como candangos ajudaram construir a cidade

Gente da Bahia, Pernambuco, Ceará, Paraíba, de todos os lugares do Nordeste, que deixou para trás a seca e a família para ir sonhar o sonho de Juscelino. No resumo do artigo abaixo, se explica a Brasília que os candangos construíram e a que é real.

 “Fazia muito frio em Brasília na época da construção. Muito mais frio e era muito mais seco. Nas madrugadas era comum uma temperatura rondando o ponto de congelamento. No mês de agosto, tanto a W3 quanto o Eixão, que ainda aguardavam o asfalto, ficavam cobertos por uma camada de mais de 20 centímetros de pó, finíssimo, como farinha de trigo, que cobria tudo e transformava a paisagem candanga em uma espécie Londres do cerrado…

Mas não era ruim. Ao contrário, tinha gosto de descobrimento e aventura. Tinha gosto de audácia e coragem.

De lá para cá se passaram 50 anos. De lá para cá não se encontra mais os amigos pela rua ou jantando no Chez Willy. Brasília ficou grande e até mesmo envelheceu precocemente. Os espaços das entre quadras foram ocupados por carros, o comércio virou um formigueiro de bares e restaurantes, a W3 fechou para balanço e a pressão imobiliária aumentou o adensamento…

Brasília não ganhou apenas novos habitantes. Não se trata meramente de uma questão quantitativa. Brasília mudou estruturalmente. Os “lacerdinhas” foram buscar novas áreas para levantar poeira e encontraram milhares de pessoas morando em regiões sem infraestrutura, postos de saúde, sem emprego, sem condições dignas.

Contraditoriamente, quanto mais pobre e fisicamente mais distante da área idealizada por Juscelino Kubitschek, planejada por Lúcio Costa, desenhada por Oscar Niemeyer e construída por Israel Pinheiro, o brasiliense admira e reconhece as vantagens que a cidade proporciona.

São dois candangos, como na escultura de Bruno Giorgi. Idênticos mas diferentes. Satisfeitos por razões diversas. Ambos de frente para o Palácio do Planalto: um com a certeza que seu futuro é certo e promissor; o outro, aguardando a política certa que possa lhe trazer um futuro de esperança e bem estar social. Idênticos, mas diferentes. Ambos sob o mesmo céu de uma história de 50 anos”.

Ricardo Pinheiro Penna é diretor de pesquisa do Soma Opinião e Mercado

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