Prosa e argumentos afinados, o cantor estreou ontem sua coluna domingueira no jornal carioca O Globo entoando um conhecido refrão dos baianos: o estado de abandono (ou não, diria o próprio) em que se encontra o Pelourinho.
No artigo, ele faz um resgate histórico do local, mas critica a condução política que tem sido dada ao Pelô. “Sentir que talvez haja desprezo pelo Pelourinho deprime”, afirma o cantor em trecho do artigo. Caetano lembra do falecido senador Antonio Carlos Magalhães ao afirmar que é preciso que o atual governo se posicione de forma clara face ao seu legado para o Centro Histórico: “ACM é um nome que se evita. Medir objetivamente seu legado é anátema”, diz no Globo.
Abandono do Pelourinho foi tema do primeiro artigo escrito por Caetano
Mesmo desafinando politicamente do antigo senador – “Fiz-lhe sempre oposição. Cantei nos comícios de Waldir Pires, que se elegeu governador” – Caetano reconhece como positivas as reformas do Pelourinho realizadas no governo de ACM na década de 1990: “Seja como for, a restauração, com os atrativos para quem quisesse estabelecer negócios ali, mudou a cara da cidade. Jovens que até os anos 80 nunca tinham ido ao Centro Histórico lotavamos bares do Pelourinho. Isso deu ao baiano uma nova autoimagem”. Logo depois, ele emenda: “O governo petista da Bahia deveria tomar o Pelourinho como uma joia a ser cuidada. Aproveitar o aproveitável de ACM- e fazer melhor”.
Herança
O legado carlista no Centro Histórico foi desde sempre mote de dissonâncias. As principais críticas foram sobre a retirada dos moradores originais do bairro e que o projeto seria eminentemente voltado para os turistas.
Sobre a polêmica, Caetano lembra no artigo da crítica que ouviu de Paulo Leminski nos anos 1970 sobre a recuperação do Largo da Ordem, em Curitiba: “Você adora enganações feitas para a classe média”, teria dito o poeta.
Mas para ele não havia problema no projeto.“ Se se fizesse algo assim com o Pelourinho, o Brasil decolaria”, pensou Caetano na época.
Para o senador Antonio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA), há um entrave político para a recuperação do Pelourinho. “Tem que acabar com essa história de porque foi ACM que fez o Pelourinho tem que ser abandonado. Isso é um crime contra a Bahia. O Pelourinho é patrimônio da humanidade, não da família de ACM”, reclama o senador.
O senador aprovou uma emenda ao orçamento 2009 do Governo Federal destinando cerca deR$ 20milhõespara que a prefeitura pudesse realizar obras de infraestrutura no Centro Histórico.
Ontem, nem o subprefeito do Pelourinho José Augusto Leal nem o secretário municipal de Comunicação André Curvello conseguiram lembrar se havia projetos elaborados para usar a verba. Caso os recursos não tenham sido empenhados até dezembro do ano passado, a prefeitura perde o direito de usá-los.
Lugar onde empregar o dinheiro não faltaria. “Se formos analisar o que era o Pelourinho há dez anos, ele está na UTI. Tem buracos sendo tapados com entulho. Isso nos dá uma angústia muito grande”, diz o dono da Cantina da Lua Clarindo Silva, para quem o Pelô é a maior referência cultural da Bahia
“O Pelourinho está um caos. Falta polícia, falta o social”, diz o vendedor de cigarros Marilton Austricliano dos Santos e Silva, 69 anos. Nascido no Largo do Pelourinho nº 5, ele cita o final da década de 1990 como “a época de ouro do Pelô.
Informações do Correio Online