Com repercussão que extrapolou as fronteiras do Brasil, a Secretaria de Segurança Pública do Estado quer dar o caso por encerrado depois que prendeu os três criminosos envolvidos no assassinato do delegado Clayton Leão, ocorrido na última quarta-feira (26) na estrada da Cascalheira, em Camaçari. Não é assim. Trata-se de um ano eleitoral, mas nem por isso os crimes têm que ser “engavetados”, ou tão apressadamente “elucidados”.
Antes de mais anda, queremos nos associar a outras pessoas que parabenizaram a Tribuna da Bahia, que estampou na sua edição da sexta-feira (28) a manchete “E foi só um assalto?”. O jornal questiona a versão apresentada pela Polícia de que os bandidos agiram para roubar. Realmente, deixar Camaçari e Salvador, com tantas opções, para ir assaltar, ou roubar um som, numa estrada deserta…
Pois bem, tem mistério no crime, como têm outros que esbarram na burocracia dos tribunais e nas delegacias da Polícia. E a família, inconformada com a versão da SSP, que deu o caso por encerrado, vai pedir apuração do crime ao Ministério Público Estadual.
Dois casos atípicos
Tanto tem mistério que o crime repercutiu em todo o Brasil e apontou detalhes aqui e alhures que impressionam. Senão, vejamos.
Estou eu na redação da Tribuna da Bahia, na quarta-feira, dia da tragédia. Havia um rebuliço sobre a notícia: era o assunto do dia, viraria capa da edição seguinte, sem precisar de reunião com os editores. De repente, o meu celular toca. Era uma repórter de nome Roberta, da Rádio Itatiaia de Belo Horizonte, talvez a mais importante de Minas Gerais.
Do outro lado ela se identifica e diz: “é o senhor o editor do Portal Interior da Bahia?” Respondi positivamente. “Por favor, li no portal a noticia sobre este crime com o delegado aí na Bahia, tem como você me passar o nome de alguém da Polícia ou da rádio (Líder FM) e o telefone para mim?”
No momento da ligação, que me surpreendeu, os repórteres da Tribuna conversavam, trocando opiniões. Foi quando me aproximei e pedi ajuda. A repórter Silvana Blesa atendeu prontamente à colega de Minas Gerais, que depois retornou a ligação para nos agradecer.
À noite, em casa, recebo uma ligação de uma cidade do interior (que me pede guardar as informações por causa do perigo). “Aqui, hoje, teve um homem que vibrou quando soube da morte do delegado”, disse a pessoa. Indaguei o motivo: “Sei lá, é um homem todo estranho, ele veio fugido de Camaçari, arranjou uma mulher aqui e vive ameaçando o prefeito…”.
Como assim, indaguei: “Ele pede as coisas e fica fazendo chantagens e ameaçando, se não for atendido”, acrescentou. E o prefeito não reage, não vai tomar providência? retruquei. “Sei lá, eu não entendo, mas acho que ele tem receio de ser pior…”
É isso. Precisa de mais alguma coisa para provar de que estamos todos reféns da bandidagem? E que a Polícia e o governo perderam a batalha? Ou não querem batalhar?
Discursos políticos
Aqui, cabe ainda uma pequena reflexão sobre outros desdobramentos do crime, notadamente no aspecto político. É fato que a oposição criticou o governo estadual com veemência, com destaque para um discurso do deputado federal ACM Neto na Câmara Federal. A pergunta é: se a oposição nada dissesse, não cobraríamos? “Cadê a oposição que não diz nada…” Não é assim?
E a situação (os governistas), tratou de dizer que houve exploração política do caso. Talvez. Mas, não era para haver? Lembremos do passado como agiam os petistas num caso como esse. Ficariam calados? Nunca! Então, coloquemos todas as nossas violas no saco e vamos ao trabalho.
Por Evandro Matos
