Esporte

O gênio Tostão e a tática no futebol após 70

Na edição de 5 de julho da Folha de São Paulo, Caderno de Esportes, Tostão, que foi um dos gênios do futebol brasileiro e que para mim encontra-se na seleção de todos os tempos, publicou artigo sobre os esquemas táticos que envolvem as partidas, concluindo que a conquista do mundial de 70, pelo Brasil, marcou o fim de uma era inspirada na arte e dividiu a história do jogo em duas etapas.

Agora, concluiu ele, estamos em plena época do futebol científico, na qual os esquemas táticos anulam as qualidades artísticas, superam a criatividade e tornam as disputas menos belas e bastante parecidas umas com as outras.

Além de ter sido um meia extraordinário, Tostão tornou-se com o tempo um excelente jornalista e um dos melhores intérpretes deste fascinante universo da bola e do gol. Brilhante personagem da Folha de São Paulo, leitura obrigatória por parte de todos os que amam futebol e vibram com ele, viajando nesta aventura eterna.

Perfeito. Inclusive ninguém analisou melhor os confrontos da Copa 2010 do que ele, que somou a experiência que possui dentro do campo ao seu talento de escritor – vamos aproveitar o título da novela da Globo – para compor excelentes páginas do esporte e da vida. Entretanto, na minha opinião, confundiu-se um pouco ao traçar a diferença do esquema tático da Seleção de 70 do esquema tático de 2010. A distância entre uma e outra não é bem tática. E sim quanto a qualidade da arte. Vamos por etapas.

Em 1950, a marcação do escrete de Flávio Costa era homem a homem. Era o tempo do WM. W para atacar. M para defender. Naquela Copa, jogamos assim:

Barbosa no gol, Augusto, Juvenal e Bigode os zagueiros, Danilo como center half, posição que não existe mais, Bauer, Zizinho e Jair no meio campo, Friaça, Ademir e Chico na frente. Era um autêntico três-quatro-três. Perdemos a final para o 4-3-3 montado por Obdúlio Varela, herói uruguaio do trágico desfecho de 16 de julho, para nós.

Oito anos depois, na Copa de 58, atuamos com Gilmar no gol, quatro zagueiros, Djalma Santos, Belini, Orlando Pessanha e meu amigo Nilton Santos; Zito, Didi e Zagalo, Garrincha, Vavá e Pelé. Antes que alguém cobre pela memória, ressalvo que o titular lateral direita era De Sordi. Djalma o substituiu somente na final contra a Suécia.

Na Taça de 70, mantivemos o 4-3-3. Felix no gol, Carlos Alberto, Brito, Wilson Piazza e Everaldo atrás; Clodoaldo, Gerson e Tostão; Jairzinho, Pelé e Rivelino. Contundido, Gerson não enfrentou a Inglaterra, entrando Paulo Cesar em seu lugar. Foi uma jornada belíssima. Em 94 vencemos jogando retraídos demais, com Parreira. Em 2002, com Felipão, houve o brilho de Rivaldo, Ronaldinho Gaucho e Ronaldo Fenômeno. Noventa e quatro, sim, é muito diferente de 70. Noventa e oito também. O quadrado mágico do mesmo Parreira naufragou no mar da realidade. Zidane o contornava à vontade. França um a zero e nós ficamos fora. Tristeza não tem fim, felicidade sim. Compuseram Vinicius e Jobim.

Na Copa de 2002, com Felipão no comando, desempenhando o papel do paizão, especialmente ao dar segurança psicológica a Ronaldo, voltamos a brilhar. Levantamos o penta, o Everest do futebol. Não atuamos em 2002 muito diferente de como jogamos em 70. Quatro homens atrás, três no meio, indo e vindo, três na frente. Tostão: a diferença de estilo não está na tática. Está na forma com que ela é exercida. Talentos como o de Pelé, como o seu, como o de Gerson e Rivelino são raros.

Por um lance do destino encontraram-se todos na heróica cidade do México.

Pedro do Coutto – da Tribuna da Imprensa

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