No dia 5 de janeiro de 2005 a cidade de Riachão do Jacuípe, na região sisaleira, parou para chorar a morte do ex-prefeito Valfredo Matos. Na última terça-feira (04) foi celebrada uma missa de intenção na igreja Matriz da cidade.
A missa contou com a participação de sua ex-esposa Tânia Regina Alves de Matos, os filhos Érico e Júnior, parentes e amigos.
Valfredo deixou a gestão municipal no dia 31 de dezembro de 2004. Cinco dias depois, em 5 de janeiro, ele veio a falecer no Hospital Santa Izabel, em Salvador.
Valfredão, como era muito conhecido no município e região, já vinha doente. Durante os dois últimos anos ele vinha enfrentando sérios problemas de saúde, o que acabou afetando na sua administração.
Ainda assim, foi insistido para que disputasse a reeleição, mas, vítima de todos os problemas da política, acabou não se reelegendo. Filiado ao PTB, o mesmo partido de Getúlio Vargas, parece ter experimentado o mesmo problema vivido pelo líder gaúcho na década de 1950.
Diferente de Vargas, ele não se suicidou, mas também sofreu nas mãos dos abutres da política, os mesmos que ainda hoje perambulam por aí e em Brasília, se locupletando do poder.
Contudo, a sua popularidade e o reconhecimento da população pelo seu trabalho fizeram com que o seu velório e enterro entrassem para a história do município. Cerca de 25 mil pessoas compareceram ao enterro, que aconteceu por volta das 9h da manhã, em um dia de sol escaldante.
Legado
O legado político deixado pelo ex-prefeito Valfredo Matos é inquestionável. Durante as duas administrações em que passou à frente do município, ele realizou obras que foram fundamentais para o seu desenvolvimento ou, no mínimo, saída de uma situação vexatória.
Assim foi quando construiu, com recursos próprios, o estádios Municipal, evitando que a população continuasse a se deslocar para cidades como Jacobina e Conceição do Coité para acompanhar a Jacuipense no Campeonato Baiano. Assim foi quando construiu o Hospital Municipal, proporcionando ao pobre acesso à saúde.
A sua visão de futuro permitiu que entregasse à população obras como a Avenida Eliel Martins, hoje onde tem uma das áreas mais valorizadas da cidade, a Avenida J. J. Seabra, o Palco Fixo para o São João, entre tantas outras.
Sob a sua administração a cidade também teve as melhores estradas vicinais de todos os tempos, várias ruas e bairros calçados, saneamento básico em vários bairros, além da construção de mais de 50 prédios escolares no município.
Apogeu no esporte
Durante as suas administrações o município também viveu a sua melhor fase no esporte. Além da realização de campeonatos municipais, de incentivo aos jovens, a seleção amadora sempre participou do Campeonato Intermunicipal, e sempre com os jogadores da cidade, que não saiam como hoje para jogar em outras seleções.
Na década de 1990 e inicio da de 2000 Riachão viveu o seu grande apogeu no futebol. Com um estádio construído com recursos do município, na gestão de Valfredo Matos, a Jacuipense ascendeu ao futebol profissional e fez bonito no Campeonato Baiano.
A equipe chegou, inclusive, a disputar a semifinal do campeonato. Um timaço, com o estádio sempre cheio, com o jacuipense sentindo orgulho de ser jacuipense. Claro, nesta época o time também teve diretores importantes como José Ronaldo Paim, Dr. Eduardo Tadeu e Hélio Carvalho Filho, mas a ação do prefeito de então foi fundamental.
Empreendedor
Antes mesmo de ser prefeito, Valfredo já desenvolvia um trabalho em prol do município. Jovem idealizador, ao lado do hoje repórter José Raimundo (Globo) criou a Liga de Futebol de Riachão do Jacuípe e organizou vários campeonatos no município e região. Nesta época fundou um jornal e difundiu o esporte através do Serviço de Alto Falante.
Ao ser aprovado no concurso do Baneb, galgou cargos importantes como as gerências em Irecê, Riachão do Jacuípe e Conceição do Coité. Foi do seu trabalho na agência de Riachão que despontou como uma grande liderança, mudando a política do município a partir de 1989.
Empreendedor, além de transformar a agência do Baneb local como uma das mais importantes da região, liderou a construção do Clube de Campo Mandacaru, fundou a Rádio Jacuípe AM e foi arquitetando as idéias da sua mente fértil.
Daí veio o Festival de Sanfoneiros, que motivou o surgimento e transformação do São João de Riachão do Jacuípe como um dos mais tradicionais da Bahia. A reboque, vieram a Copa Rural, que depois se transformaria em Copa do Interior, a participação na reforma da Igreja Matriz, entre tantos outros.
Deputado
Valfredo Matos também foi candidato a deputado estadual na década de 1990 e só não se elegeu por um erro no seu número de registro de candidatura, que foi trocado. Isso lhe gerou um prejuízo de mais de 1.500 votos, o que certamente lhe garantiria a eleição direta. Ficou como suplente, mas não chegou a assumir.
Foi uma liderança regional, com amigos e marcas em municípios como Nova Fátima, Ichu, Candeal, Tanquinho, Valente, São Domingos, Retirolândia, Conceição do Coité, Gavião, Capela do Alto Alegre, Pé de Serra, Serra Preta, Amélia Rodrigues, entre outros.
Saudade
A saudade de Valfredo é sentida até hoje não só pela família como por muitos amigos e admiradores. Senhores, pais de família e jovens não se conformam pela perda irreparável. Muitos usam uma foto dele na carteira ou têm uma foto na parede de casa.
A chegada do seu corpo em Riachão provocou desmaios e muito choro. Um silêncio se abateu sobre as casas, as ruas ficaram paradas, as pessoas se questionavam. “Um homem tão bom!”, diziam. Senhores de idade, chamadas de “as velhinhas de Valfredo”, choravam sem parar. Jovens se abraçavam e promoviam eventos em louvor.
A tradicional música de sua campanha, de Zé Geraldo, virou um hino da saudade. Nos carros passou a ser comum se ouvir a bela canção. E assim muitos conversam e se lembram da figura alegre e simples que um dia passou no meio de todos nós.
Da redação