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História

Menina de 14 anos reencontra a família no interior do Ceará após ser vítima de maus tratos e exploração sexual em MT

Na noite da última sexta-feira (21), a adolescente estava de volta. A jovem havia saído de casa aos 11 anos para ajudar um casal, que no início morava perto da família, em Reriutaba, a 309 quilômetros de Fortaleza, mas depois mudou para Várzea Grande, no Mato Grosso.

Um abraço longo e apertado da mãe veio acompanhado dos dizeres: “Tanta saudade eu senti de você, minha filha”. As duas se emocionaram. “Ela (uma mulher de 64 anos que era vizinha da família), era doente, precisava de ajuda. Eu não queria deixar minha filha ir, mas ela prometeu que nada ia faltar a ela (adolescente)”, lembra a mãe, a dona de casa de 48 anos.

Até que, morando no interior de Mato Grosso, a nova vizinhança começou a desconfiar. Segundo o Conselho Tutelar de Reriutaba, a menina não saía de casa, nem para ir à escola. Depois de denúncias, foi constatado que a mulher, o marido de 59 anos, e o filho de 30, mantinham a menina em cárcere privado.

A criança foi encontrada presa a um armário. Além dos maus tratos e da exploração do trabalho infantil, ela era vítima de violência sexual. Ainda com 11 anos, vivia como se fosse esposa do filho do casal. A Polícia de Mato Grosso suspeita ainda que o pai dele também violentou a menina. Os três foram presos.

Desde que a menina foi embora, a mãe havia recebido ligações três ou quatro vezes da família, informando que ela estava bem. Até que, meses depois, a mãe recebeu também uma ligação do Conselho Tutelar de Mato Grosso.

“Me disseram que estavam ‘judiando’ dela. Eu nunca judiei dos meus filhos. Começou a sair na televisão que eu tinha vendido ela. Ave Maria, eu não vendi minha filha, nem troquei. Eu confiei que eles iam cuidar dela”, chora a mãe, desmentindo informações iniciais de que a menina havia sido vendida pela própria família por R$ 700 e um lote de terra.

Repercussão e sofrimento

Logo que o caso ganhou repercussão, a mãe perdeu o sossego. Além de saber do sofrimento da filha, ainda era apontada na rua como a mãe que tinha vendido a filha. Passou a ter problemas neurológicos, sofria desmaios e tremores. Ao mesmo tempo, a menina passava por abrigos de Mato Grosso e Fortaleza, enquanto a Polícia investigava as denúncias contra a família e a Justiça definia se ela voltaria para casa ou se seria destinada à adoção.

O conselheiro tutelar de Reriutaba, Darcior Ferreira, explica que a menina foi para Mato Grosso em novembro de 2008 e ficou lá até setembro de 2009. Na opinião dele, a culpa que foi atribuída à família dela gerou ainda mais sofrimento. “A vulnerabilidade social da família é grande, mas a honestidade também. Eles foram tão vítimas do casal quanto a adolescente”, reforçou o conselheiro tutelar da cidade.

Ansiedade pela volta

 

Como a Justiça decidiu que a menina voltasse para casa, na noite da última sexta-feira a mãe viveu um dia de ansiedade. Ficava de um lado para o outro da casa, esperando a chegada da filha, que vinha de Fortaleza. Não queria ficar sozinha nem por um minuto, temendo não aguentar a forte emoção e se sentir mal de novo.

O conselheiro tutelar de Reriutaba, Darcior Ferreira, conseguiu um veículo da Prefeitura de seu município e partiu às 5 horas rumo a Fortaleza, para buscar a adolescente. Eles só chegaram à casa da menina, por volta das 21 horas.

A volta para casa foi marcada por emoção e alegria dos familiares da adolescente de 14 anos, que foi vítima de cárcere privado, exploração do trabalho infantil e violência sexual. A menina não vê a hora de voltar a estudar, que também é uma vontade da sua mãe.

A mãe da adolescente teve, ao todo, 14 filhos. Hoje, nove são vivos e quatro ainda moram com ela. O sustento da família chega por meio de benefício social, como Bolsa Família. Agora, a adolescente vai dividir o quarto com a irmã de 12 anos. Informações do Jornal o Povo, de Fortaleza.

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