História

Rapidinhas – Preso, Seu Raimundo vira herói e não vê o mundo girar aqui fora

O estopim

O pontapé para que a prisão do senhor “Raimundo do Leite” repercutisse tanto parece ter sido dado por este Portal, quando na segunda-feira (14) publicou uma matéria da repórter Alana Adrielle sobre o assunto.

Reforço

Na terça-feira, recebemos por e-mail um texto da jovem Leidiane Rios, graduada em Letras pela Uneb/Conceição do Coité, que foi publicado na quarta (16), também com ampla repercussão.

Cenário pronto

O cenário estava pronto. Eis que, durante todo o dia de quarta, o clima na cidade amanheceu tenso com uma manifestação em frente à Câmara de Vereadores, depois no Fórum Municipal, depois na BR-324, culminando com a cena final, a liberdade de Senhor Raimundo, com direito a carreata e um Pai Nosso rezado em frente à Igreja Matriz.

O fato

De Salvador, era como se estivéssemos em Riachão do Jacuípe. Os telefones não paravam de tocar e as informações se sucediam. Os nossos repórteres Laura Ferreira e Alana Adrielle foram a campo para acompanhar tudo de perto. Além das matérias preliminares que foram postadas, nesta quinta-feira vieram as informações mais detalhadas das duas repórteres. 

Repercussão

Á noite, no jornal, a TV Itapoan/Record anuncia uma matéria especial sobre o caso, com direito a chamadas para o bloco seguinte. Imagens da cidade, da manifestação e do senhor Raimundo saindo da prisão como um verdadeiro herói deram a tônica do produto final.

Minutos de fama

Não nos cabe aqui julgar o mérito da posição da Justiça em prender ou manter o “leiteiro” preso, até porque lei é para ser cumprida. Contudo, considerando o contexto em que tudo aconteceu, seu Raimundo do Leite ganhou os seus quinze minutos de fama de forma injusta, e sem querer.

Paradoxo I

Claro que existe a lei, mas o detalhe é que outros casos de proporções bem maiores não são levados tão a cabo, como tão bem salientou o texto de Leidiane Rios, e como bem expressou o clamor popular.

Paradoxo II

Se fôssemos associar o erro do seu Raimundo a outros absurdos que acontecem no Brasil inteiro, e na própria Riachão, talvez entendêssemos porque o povo – certo ou não, consciente ou não, com espetáculo ou não – comprou com tanta força a dor do pobre vendedor de leite.

Povo cansado

Cansado, o povo não entende, por exemplo, por que mofa nas gavetas dos tribunais processos contra políticos que desviam recursos públicos, que roubam à luz do dia e que compram – com este mesmo dinheiro – a consciência de outros tantos Raimundos. 

Leiteiro x mensaleiros

Não teve o Seu Raimundo, como tantos outros, dinheiro em abundância para pagar a advogados. Não teve ele a mesma sorte como os mensaleiros do PT, de 2005, que roubaram e sacaram em bancos R$ 100 mil, R$ 2 milhões e até R$ 4 milhões dos cofres públicos. Ou o caso de Arruda no Distrito Federal, e tantos outros que fedem na frente do nosso nariz.  

Quadro deprimente

Contrariando este quadro deprimente, o processo contra Seu Raimundo só seria avaliado em cinco dias, aparentemente rápido para uma decisão judicial, mas longo demais para corrigir uma injustiça contra um trabalhador. Enquanto isso, o processo dos mensaleiros é retardado e postergado estrategicamente. Em agosto corre o risco de prescrever e todos podem virar “inocentes”. Sabemos que são situações diferentes, em lugares diferentes, mas há contradição.

Sociedade de olho

As cenas registradas em Riachão do Jacuípe remetem a tempos passados que nem vale à pena repetir. Contudo, talvez fique a lição de que os Raimundos não podem afrontar as leis, mas fica também o recado de que a sociedade ainda tem solidariedade e está de olho nas suas injustiças.

O mundo lá fora

Os cinco dias em que ficou na prisão talvez não desse para seu Raimundo refletir o quanto a vida é dura lá dentro. Mas, ao ser libertado, talvez nem saiba que voltou para o meio de uma guerra que eclode aqui fora, com tsunami no Japão, crimes bárbaros em todos os lugares, drogas se alastrando até nas bibocas e corrupção desenfreada em nossa frente. Pobre, Raimundo, qual mesmo o melhor dos mundos?

Por Evandro Matos – especial para o Interior da Bahia

      

     

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