Pegou mal, muito mal mesmo, o fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter recusado o convite do Itamaraty para participar do almoço em homenagem ao presidente americano, Barack Obama.
A presidente Dilma Rousseff soube na quinta-feira, dia de sua viagem a Uberaba (MG), que Lula não aceitara o convite. Os ex-presidentes José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco e Fernando Collor, também convidados, marcaram presença no evento.
O pior foram as desculpas: primeiro, o fato de o convite ter sido feito por um telefonema do Itamaraty, que foi dado por um diplomata e não pelo chanceler Antonio Patriota ou pela própria Dilma Rousseff. Lula teria se sentido diminuído. Essa justificativa foi seguida pela versão de que Lula já teria uma compromisso – o churrasco de aniversário de um dos filhos.
Depois, surgiu a desculpa de que Lula não pretendia encontrar Obama devido aos desentendimentos diplomáticos no caso do programa nuclear do Irã, quando o então presidente brasileiro, ao lado do primeiro-ministro da Turquia, viajou ao Irã para intermediar uma solução para a crise, conseguiu, mas não foi aceita pelo governo dos EUA, que de início teria incentivada a intermediação turco-brasileira.
Mais adiante, veio a versão de que Lula não via significado maior em reunir todos os ex-presidentes em torno do chefe de Estado dos EUA. Por fim, apareceu a justificativa de que Lula não queria ofuscar a atual presidente, ao chamar para si as atenções da imprensa, caso comparecesse, ao lado dos demais ex-presidentes, ao almoço oferecido ao governante dos Estados Unidos.
As desculpas esfarrapadas do ex-presidente, transmitidas por seus assessores, entre eles Paulo Okamoto, ex-presidente do Sebrae, mais parecem “O Quarteto de Alexandria”, o extraordinário romance do autor anglo-indiano Lawrence Durrell, que oferece quatro versões para o mesmo fato.
O que pode estar acontecendo com Lula já era até previsível. É a chamada Síndrome do Vazio, que tanto atinge pessoas simples, que se aposentam e não têm nada para fazer, quanto pessoas importantes, que deixam a função de destaque que desempenhavam e se sentem desprestigiadas. Justamente por isso, Lula deveria ter ido, até mesmo para elevar sua autoestima.
Freud explica. É muito difícil acordar todo dia sem ter o que fazer. Muitos pacientes da Síndrome do Vazio tem de procurar ajuda terapêutica, para superar essa situação. Grande parte apela para a bebida. São aquela pessoas que se sentam sozinhas num bar, diante de uma garrafa de cerveja, sem ter com quem conversar.
Esperamos que Lula supere logo essa fase e possa participar de grandes ocasiões como essa, não importa quem tem feito o convite, se a presidente da República ou o contínuo do palácio.
Por Carlos Newton – Tribuna da Imprensa