Ele foi obrigado a abandonar o curso no 3º semestre e deixar a cidade de Jaguarão, no sul do estado, após sofrer ameaças de morte em cartas supostamente enviadas por policiais da Brigada Militar da cidade. Helder denunciou ter sido vítima de racismo e agressão por policiais da Brigada.
A primeira carta anônima chegou à casa do estudante de Feira de Santana após ele denunciar na Corregedoria da Polícia e na rádio local que tinha sido agredido e chamado de ‘negro vagabundo’ ao tentar defender um amigo de uma abordagem policial. Helder foi agredido na barriga e no ombro por um dos policiais e em seguida detido acusado de desacato.
Se a primeira carta aconselhava o estudante a deixar a cidade para sua própria segurança, a segunda assustou Helder pelo conteúdo e pelas ameaças. “Eram muito agressivos, me chamavam de ‘baiano fedido’, ‘nego sujo’, ‘volta pra tua terra, baiano’. Pensei que se levasse as cartas à público eles não tentariam fazer nada contra mim”, contou o estudante.
Em um dos trechos, o texto diz: “Se tu for lá na Brigada e falar a verdade e me caguetar no meu processo, eu vou te cobrir de porrada. No carnaval, tu escapou, mas dei um jeito de embolachar teu amiguinho Seco Edson sem sujar as mãos. Deixamos a cara dele mais feia e preta que a tua, seu otário”.
Após as denúncias, as ameaças aumentaram. “Eles começaram a passar na porta da minha casa com a viatura ligada, várias vezes ao dia. Passavam bem devagar e, no início pensei que era apenas para me intimidar”, contou o estudante de Porto Alegre, para onde se mudou após as ameaças.
Volta à Bahia
O estudante deve voltar à Bahia na próxima semana e tenta transferência para outra universidade. “Vou tentar me transferir para a Universidade Federal do Recôncavo. Estou na casa de um amigo esperando alguma posição”.
O caso está sendo investigado pela Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, ligada à Presidência da República, e pela Promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público do Rio Grande do Sul.
“Eu estava concretizando tantos sonhos, minha casa estava toda mobiliada, minha vida estava toda estruturada. Deixei a Bahia só para estudar, fiz ‘Livro de Ouro’ para juntar dinheiro, passei listinha entre amigos que me ajudaram a comprar a passagem. Comecei a trabalhar na prefeitura, atuava com um trabalho voluntário na comunidade quilombola, com os presos, e estou saindo daqui sem nada”, disse o estudante por telefone. Informações do Correio.