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Nordeste

Centenário de Maria Bonita: Nordeste se orgulha de sua mulher guerreira

No mês do centenário de nascimento dela, conheça a vida dessa jovem, e a história de outras “Marias” que também quebram regras, desafiam preconceitos e, acima de tudo, amam! 

Ela nunca seria conhecida pelo nome de batismo. Entrou para a história com o nome que ganhou nos anos vividos com o controverso companheiro Lampião. Essa Maria nasceu em oito de março de 1911. Numa coincidência que jamais poderia ser imaginada ou explicada, esse mesmo dia foi escolhido, no ano anterior, durante a Conferência Internacional da Mulher da Dinamarca, como a data símbolo para o combate contra o preconceito sofrido pelas mulheres em todo o mundo e para a afirmação feminina na sociedade contemporânea.  

Maria Gomes de Oliveira entrou para a história por ser uma mulher cheia de coragem, ousadia e também cheia de amor. Uma mulher que preferiu se arriscar no mundo ao lado do homem amado do que viver uma vida de certezas, conformismo e infelicidades. A pesquisadora Semira Adler Vainsencher explica: “Maria Bonita foi a primeira mulher, a cangaceira a se inserir no bando; ela foi ousada, uma mulher corajosa, brava (…) ela ousou romper preconceitos de época; foi contra a sociedade vigente”. 

Maria de Déa vira Maria Bonita 

Mas, até se transformar no ícone Maria Bonita, houve um nascimento, uma família, um casamento, um grande amor. Maria de Déa (era conhecida assim por conta da mãe, apelidada de Dona Déa) era uma sertaneja como outra qualquer, nascida no interior da Bahia, no distrito de Malhada de Caiçara, a 38 quilômetros de Paulo Afonso.

Uma menina comum, bonitinha, com os seus dengos; faceira e malcriada, mas também alegre, conversadeira e companheira. Mais uma filha no meio de outros dez irmãos, ela teve uma infância simples, como outros da época. Brincava com bonecos de pano, bonecos de milho, de casinha. Entrou na adolescência e se apaixonou. 

Aos 15 anos, Maria de Déa se casou com o primo José Miguel da Silva, sapateiro conhecido como Zé de Nenem. Foi uma união infeliz e o casamento, que durou menos de três anos, um desastre. Quase seis anos mais velho, o sapateiro era um bebedor e seresteiro e um dos maiores dançadores daquela região. A moça de personalidade forte nunca aceitou a vida de farras e festas do marido e logo as brigas entre os dois se tornaram frequentes.

A cada desavença, Maria costumava se mudar para a casa dos pais ou dos tios, que moravam próximo. Segundo o historiador João de Souza Lima, a última discussão entre marido e mulher se deu na noite em que Maria encontrou num dos bolsos do paletó de Zé de Nenem um pente com o nome de outra jovem escrito – uma conhecida da família e de Maria. Depois dessa briga, a baiana vai embora.  

Surge Lampião no caminho 

Foi quando voltou à casa dos pais que Maria conheceu Lampião. A mãe dela, Dona Déa, foi uma grande incentivadora do namoro entre os dois. Já o pai, José Gomes de Oliveira, mais conhecido na região por Zé Felipe, não aprovou o namoro – inclusive porque as prolongadas visitas dos cangaceiros fizeram com que a casa da família se transformasse em alvo constante das perseguições das volantes. 

Consciente da situação enfrentada pela família, Maria, então, com quase vinte anos, decidiu deixar a casa dos pais e se arriscar a seguir pelo mundo ao lado do grande amor. Ela não tinha ideia que sua escolha a colocaria para sempre na história e que seu nome seria para sempre lembrado em incontáveis manifestações e representações da cultura popular.  

A caminho de Angico 

Era noite de uma quarta-feira. Fazia frio na Grota do Angico, fazenda localizada às margens do Rio São Francisco, na cidade de Porto da Folha (atual Poço Redondo), em Sergipe.  Maria Bonita chamou a amiga Sila para fazer um desabafo. Entre uma baforada e outra – ela só fumava quando Lampião não estava por perto –, falou sobre as dificuldades da vida do cangaço e de como seria difícil abandonar o movimento. Parecia pressentir algo.   

A Grota era o esconderijo escolhido, havia uma semana, pelo bando de Lampião e Maria Bonita para acertar uma emboscada contra o tenente José Osório de Farias, conhecido como Zé Rufino. Para Lampião, o tenente andava “atrapalhando” e era hora de tomar providências. 

O lugar, cercado por arbustos espinhosos e pelo Velho Chico, não agradava a todos. Tinha apenas uma “porta” de entrada. Corisco, cangaceiro e amigo de Lampião, comandava um subgrupo do bando e havia sido convocado para a missão. Ao chegar, logo disse: “Cumpade, vamo simbora daqui. Lugá com uma entrada só é cova de difunto”. Suas palavras voaram com o vento.

A emboscada contra Zé Rufino não aconteceu. Não houve tempo para ser colocada em prática. Na quinta-feira, 28 de julho de 1938, a noite fria virou sangrenta. Horas depois da conversa entre Maria Bonita e a amiga Sila, o bando foi atacado de surpresa pela volante do tenente João Bezerra. Rei e Rainha do cangaço, além de outros nove cangaceiros, foram assassinados. As cabeças foram cortadas e exibidas como troféu. Fim do cangaço e início da eternização de um mito sertanejo. Fonte: Diário de Pernambuco.

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