História

Se soubesse fazer poesia, chamaria o Professor Almir para conversar…

Como homenagem, este Portal traz mais um texto sobre ele. Confira:

Se ainda soubesse fazer poesia

 

Se ainda soubesse fazer poesia

escreveria uns versos sobre o professor Almir,

recordaria do dia em que ele apareceu lá em casa

numa bela noite de São João, na “roça” do meu pai.

Lembraria daquele jovem, com o meu irmão Orlando, adentrando a casa.

Um mundo pela frente, tantas estrelas no céu, tantas bombas a soltar…

Se ainda soubesse fazer poesia

lembraria do dia em que ele me defendeu do ataque da burguesia

na sala extensa do Colégio Nossa Senhora da Conceição.

Lembraria do seu discurso e do silêncio que impôs à turma,

do sermão que nivelou o rural ao urbano, e o tímido ao poderoso.

Se ainda soubesse fazer poesia

queria retomar as nossas conversas do Projeto Cultural,

e o nosso papo de memória aguçada sobre a cultura popular.

As nossas noites sob o repicar do pandeiro do Samba das Pedrinhas

e os nossos ouvidos a escutar o batuque da turma do Mocó.

Se ainda soubesse fazer poesia

convidaria para a nossa mesa a gente que ele tanto conheceu,

falaria com Izidrio, Manezinho, Misael, sambadores de todo lugar.

Mas teria convidados diferentes, talvez Malvadinhos e colegas professores

ou a Banda de Pífanos de Vila Guimarães, que um dia revelou ter existido.

Se ainda soubesse fazer poesia

chamaria Dinho, Vera, Osvaldo, Dogivaldo, Naná, Zeinha…

pessoas que um dia, como ele, resgataram a cultura deste lugar.

Daria boa noite, diria qualquer coisa e tomaria um copo qualquer

e, cobrando a sua companhia, não deixaria o mundo lhe levar.

Evandro Matos

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