Justiça

No calor da tragédia em Pé de Serra: Até quando vamos suportar esse descaso?

Em um passado não muito distante, as cidades pequenas, em especial as interioranas, eram consideradas como locais tranqüilos, nos quais as famílias procuravam se refugiar contra uma espécie de mundo alheio à realidade dos pequenos centros urbanos: o mundo do crime, da violência.

Eram esses pequenos centros os locais ideais para quem desejava experimentar mais de perto a tranquilidade, a paz, o ar livre e a liberdade de ficar, em noites quentes, com as janelas de suas casas abertas até mais tarde, fechando-as muitas vezes quando iriam dormir.

Não sou tão velha, porém tive o prazer de alcançar uma época na qual as pessoas ficavam conversando na frente de suas casas, com amigos e vizinhos, à espera do sono, sem que o medo de serem surpreendidas por qualquer ato de violência as tomasse. Porém, as coisas mudam e, ao contrário do que algum desavisado possa pensar, tal mudança nem sempre acontece para melhor. E essa mudança chegou, os tempos são, de fato, outros.

No afã de entrar de vez nos moldes da sociedade modernizada, as cidades pequenas experimentam uma nova fase e, finalmente, comprovam que a criminalidade, a falta de amor pelo próximo e a desvalorização da vida já não são características mais das grandes cidades, apenas.

A facilidade e a rapidez com que as pessoas perigosas chegam às nossas famílias realmente nos assustam, mostrando-nos que muita coisa precisa ser feita e o prazo para que isso aconteça não tem como ser grande.

No início dessa semana, Pé de Serra e adjacências foram tomadas por um sentimento idêntico: o de medo e o de uma certa impotência diante do duplo assassinato de dois jovens. Compartilhamos de uma angústia sem medida, o que não trará de volta, certamente, a vida dos jovens mortos de modo tão cruel e repentino.

Sinceramente, qualquer palavra, gesto, ou algo feito na tentativa de consolar e minimizar a dor dos parentes das vítimas deve ser louvável, porém são duas grandes baixas irreparáveis no seio de qualquer família. Isso não invalida o nosso gesto de solidariedade que deve começar sendo prestado através da negação a todo e qualquer discurso que coloque o problema da violência como uma fatalidade.

Pagamos os nossos impostos, que, diga-se de passagem, são tarifas exorbitantes, e não vamos aceitar o descaso dos governantes para com as nossas pequenas cidades. Todos sabem que eles não se preocupam com a segurança das áreas nas quais eles não se sentem obrigados a transitar, o que é lamentável, mas comecemos a ser mais criteriosos e politizados. Vamos mais às ruas!!!

Saiamos desse estado doentio de passividade e busquemos saber mais do que está sendo  feito com o nosso suado dinheiro.

De resto, prestemos os nossos sentimentos de tristeza pelo momento de dor desmedida que está passando a família de Fernando e a família de Lucivânia e que Deus possa abençoar e conceder força e fé a cada um de vocês.

Leidiane Rios é graduada da Uneb – Riachão do Jacuipe  (Foto: Robson Foto).

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