O evento foi conduzido pelo presidente da Casa Legislativa, Antônio Francisco Neto (DEM), que compôs a mesa juntamente com Anton Fon, dirigente Nacional da Consulta Popular e contemporâneo de Marighella; Carlos Augusto Marighella, filho do homenageado; Jaime Cruz, presidente do Partido dos Trabalhadores em Feira de Santana e José Nery de Almeida, pároco da Catedral de Santana, representando o arcebispo Dom Itamar Vian.
“É preciso ter coragem de dizer. O homem deve ser livre…”, disse Angelo Almeida, após saudar os presentes na sessão especial. Para o vereador, esse trecho do poema “Rondó da Liberdade”, de Carlos Marighella, não representa apenas o sentimento de um homem, mas de toda uma nação.
O petista salientou que “o Brasil já viveu oprimido, cerceado em seus direitos, amordaçado”. Todavia, segundo ele, “jamais cabisbaixo, porque neste país existiram – e existem – homens e mulheres que não tiveram medo de ir às ruas, de ir à luta, de guerrear pela liberdade”.
Angelo ressaltou que na década de 60, por exemplo, não existia diálogo, nem democracia. “E foi aí que um baiano, negro, livre por natureza, poeta, sonhador, comunista e engajado nas lutas sociais, disse: ‘Eu não aceito!’, e formou um verdadeiro exército popular que se uniu a tantos outros em cada canto desse país. Carlos Marighella se tornou o inimigo número um da ditadura militar e um símbolo de esperança e liberdade para o Brasil”.
Em sua opinião, talvez, se Carlos Marighella não tivesse se indignado ante tanta opressão, estivesse ele com sua família comemorando seus 100 anos. “Mas, o Brasil, companheiros, este seria um outro país”, afirmou.
Companheiro de luta e filho
Aton Fon, que foi companheiro de luta de Carlos Marighella, fez um breve relato da vida do homenageado, enfatizando vários aspectos. O palestrante destacou a emboscada feita pelos agentes do Departamento de Ordem Pública e Social (Dops), que resultou na morte de Marighella, na noite de 4 de novembro de 1969.
“Naquela noite, todos nós morremos um pouco, porque foi roubada uma parte importante de nós. É por isso que precisamos ter claro que há muito que se recuperar. Aquilo que nos foi tirado naquela noite temos o dever de buscar recuperar”, disse Aton Fon.
Em consonância com a explanação de Aton Fon, o filho do homenageado, Carlos Augusto Marighella, fez um breve resumo da história do seu pai. Ele declarou que desde a morte de Marighella, em 1969, se sentiu na obrigação – enquanto membro da família, brasileiro e militante político – de homenageá-lo, tendo em vista o legado que deixou para a história do Brasil.
“Meu pai lutou contra a intolerância e contra todos os ditadores que apareceram no país, desde os 18 anos de idade, e sempre com um discurso de motivação pela defesa do Brasil, pela emancipação econômica. Seu discurso revelava um intenso amor pelo povo brasileiro, sobretudo pelas pessoas humildes”, lembrou.
Carlos Marighella Filho acrescentou que, embora o pai dele tivesse passado a maior parte da vida em permanente fuga e na clandestinidade, era uma figura humana admirável. “Um homem poeta, que gostava de música, de Carnaval, que transbordava alegria e felicidade a todo o momento. É contagiante, inclusive, toda a esperança e todo esse espírito sonhador que ele tinha, e ao mesmo tempo toda a coragem que ele teve ao enfrentar a dura realidade”.
Aproveitando o ensejo, ele anunciou que no Teatro Vila Velha, em Salvador, no dia 5 de dezembro, acontecerá um julgamento simbólico de Marighella, reconhecendo neste a condição de anistiado e perseguido político.
A sessão especial teve o seu desfecho com o vereador Angelo Almeida entregando uma placa ao filho do homenageado pela passagem dos 100 anos de nascimento de Carlos Marighella. Na oportunidade, foi exibido um vídeo com fotografias de Marighella e dos embates políticos nos quis ele esteve envolvido.