Educação & Cultura

Cachoeira: Mãe Baratinha de Oxum: Um legado afro-brasileiro de fé e cidadania

A criação da diáspora africana no Brasil por meio do tráfico de milhões de africanos como principal sustentáculo do capitalismo desenvolvido em várias fases por meio do colonialismo, imperialismo e o atual estágio do neoliberalismo, não trouxe somente episódios nefastos para o planeta, mas, também, trouxe grandes desafios para a humanidade e revelou a capacidade de reorganização e força deste segmento humano: o africano e afro-brasileiro.

Esta afirmação não seria possível sem o sacrifício e primazia de lideranças religiosas como Mãe Baratinha de Oxum da cidade de Cachoeira no Recôncavo Baiano. Tendo como palco de lutas e afirmação do legado civilizatório africano e afro-brasileiro o bairro do Alto do Rosarinho.

A trajetória desta ialorixá é marcada pela dignificação e transformação da desgraça por meio do episódio da Escravidão e da perseguição histórica oficial do Estado brasileiro aos homens e mulheres vindos do continente africano para imprimir no território brasileiro uma das mais lindas experiências de superação e coragem da espécie humana, transformando pessoas sem alma em cidadãos e cidadãs ativos e participativos na elaboração de uma identidade capaz de semear redes de solidariedade e exemplos de amor e respeito a existência humana disseminando conhecimentos fitoterapêuticos, estéticos e centros de tratamento espiritual e de saúde a milhões de pessoas não atendidas pela saúde e pela educação do Estado.

Faz sete anos sem a presença de dona Galdina Silva no cenário da sociedade baiana e brasileira, mas deixa para todos nós a sua influência viva nos seus filhos e filhas de santo que construíram templos da religiosidade africana e afro-brasileira em vários estados brasileiros e em outros países, favorecendo a continuidade da manutenção dos conhecimentos dos seus ancestrais africanos e dos griots que preservam e conservam conhecimentos elaborados por séculos.

No terreiro Ilè Kaió Alaketu Ashé Oxum, no Alto do Rosarinho, na cidade de Cachoeira, a sua contribuição continua viva por meio de sua sucessora, Mãe Preta de Oxaguiã, zeladora responsável pela continuidade da existência de um espaço de acolhimento, fortalecimento e compreensão dos problemas humanos.

Estes templos são essenciais para a construção de um mundo mais humano e mais sofisticado, mitigando os impactos nocivos da guerra estabelecida nos centros das cidades por meio da violência instituída pelas racionalidades que produzem uma exclusão histórica em massa.

São estes lugares que garantem o acolhimento dos mais humildes e que possibilitam a estas populações a esperança de dias melhores, que possam concretamente construir uma sociedade ambientalmente mais sustentável, garantindo a diversidade tão necessária para a construção de cidadãos e cidadãs mais responsáveis com este novo mundo, onde brancos, negros, amarelos e demais segmentos sociais possam ter oportunidades de sobrevivência e reconhecimento. Estreando um diálogo peculiar as sacerdotisas que é o da paz e do respeito e distribuindo gentileza e civilidade no trato com o próximo.

Foi esta contribuição africana e afro-brasileira que hoje se impõe como uma racionalidade positiva, um dos ensinamentos de Mãe Baratinha (Galdina Silva) e que precisamos compartilhar com o mundo para fazer do mesmo um lugar melhor para todos e todas nós.

Sandro Correia – é professor do Campus V da UNEB; Membro do AFROUNEB; Geógrafo e Mestre em Engenharia Ambiental Urbana pela UFBA.

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