Com uma vida de muito trabalho, via bem próximo de mim um menino, não tão rico, mas que ganhava todos os brinquedos do mundo.
Enchia a minha cabeça de sonhos, projetando também ter algum daqueles presentes um dia.
Mas o meu desejo maior veio anos depois, quando já estava em uma faixa etária de um menino ainda insaciado dos sonhos de Natal e o menino que já desabrochava para o mundo.
Naquele ano a que me refiro agora, meus dois irmãos mais novos ganharam presentes, vindos de fora da nossa casa. O meu desejo se aguçou tanto que uma irmã, sentindo o drama, procurou me confortar:
“E porque você já está grandinho. Eles ganharam porque são ainda pequenos”, disse.
Digamos que me convenci, mas as lágrimas daquela criança se derramaram no silencio, porque, certamente, ela cobrava saldo do passado, que nunca lhe era ressarcido.
Os anos se passaram e agora percebo, finalmente, que não sou mais criança. Talvez ainda sonhe com os presentes que não ganhei, mas conforta-me saber que a felicidade que não tive posso proporcioná-la a alguém.
Por isso que hoje saí por aí, vagando, à procura daquela criança que se perdeu dentro de mim. Encontrei, em vários lugares da cidade, cópias idênticas e problemas iguais:
E a falta do presente que não tive e a presença do sonho que sonhei.
Por Evandro Matos
