
Nesta sexta-feira (3), o cantor, instrumentista e compositor paraibano Zé Ramalho, conhecido como o Bob Dylan do Sertão, faz 76 anos. Ele construiu uma carreira que o consagrou como um dos maiores nomes da música popular brasileira.
Nascido em Brejo da Cruz, no sertão da Paraíba, em 1949, José Ramalho Neto é reconhecido por sua obra que une a poesia do sertão, o misticismo, a literatura de cordel e a sonoridade do rock.
A infância do artista foi marcada por acontecimentos decisivos. Órfão de pai ainda muito pequeno – vítima de afogamento -, ele foi criado pelos avós paternos, que lhe transmitiram a vivência sertaneja e as tradições populares que mais tarde se tornariam matéria-prima de sua arte.
Essa origem no sertão profundo está presente em praticamente toda sua obra, seja de maneira explícita, em canções que falam da seca, da religiosidade e das lutas do povo nordestino, seja em forma mais simbólica, como nas imagens de “Avôhai”, uma das músicas mais icônicas de sua carreira.
Na juventude, Zé Ramalho teve contato com duas vertentes musicais que moldariam sua identidade. De um lado, a tradição nordestina – com repentistas, cantadores e o baião de Luiz Gonzaga – de outro, a explosão do rock internacional, sobretudo Beatles, Bob Dylan e Pink Floyd.
Enquanto outros artistas buscavam se alinhar a um único estilo, Zé ousou cruzar fronteiras, criando um som que dialogava tanto com o psicodelismo dos anos 1970 quanto com as raízes da cultura popular do Nordeste.
O início de sua trajetória artística ocorreu ainda nos anos 1970. Em 1975, lançou junto com Lula Cortês o álbum “Paêbirú”, considerado até hoje um dos discos mais raros e cultuados da música brasileira.

Ainda assim, foi com o disco de estreia solo, “Zé Ramalho”, de 1978, que ele se projetou nacionalmente. Esse trabalho traz faixas como “Avôhai” e “Chão de Giz”, músicas que se tornariam clássicos absolutos da MPB.
O sucesso foi consolidado ao longo da década de 1980, com discos como “A Peleja do Diabo com o Dono do Céu”, de 1979, e “A Terceira Lâmina” de 1981, que reafirmaram seu estilo único.
Letras enigmáticas, referências bíblicas, imagens de luta, fé e transformação, além da dramaticidade de sua interpretação, conquistaram o público e o transformaram em um artista cultuado.
Nesse período, Zé Ramalho também se aproximou de ícones da música brasileira, como Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho – prima do cantor -, reforçando a força da cena nordestina dentro da MPB.
Nos anos 1990, em meio às mudanças da indústria musical, Zé Ramalho manteve sua relevância com novos projetos e parcerias.

Sua relação com Raul Seixas foi constantemente lembrada, já que os dois compartilhavam afinidades artísticas, místicas e até de estilo de vida. Essa ligação resultou, anos mãos tarde, em álbuns de tributo.
Zé também se dedicou a homenagear artistas fundamentais em sua formação. Ele gravou discos reinterpretando canções de Bob Dylan, Beatles, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e até Chico Buarque, sempre imprimindo sua marca pessoal.
A virada dos anos 2000 trouxe uma nova fase de reconhecimento. O público jovem descobriu Zé Ramalho, seja pela força de suas letras, seja pelas participações em trilhas sonoras de novelas e filmes.

O cantor também passou a explorar novos caminhos, como no show “Zépultura”, realizado no Rock in Rio de 2013, em parceria com a banda Sepultura.
Em 2014, lançou ao lado de Fagner um CD e DVD ao vivo, reforçando a sintonia de dois nomes centrais da música nordestina.
Pouco depois, fundou seu próprio selo, a Avôhai Music, que lhe deu mais liberdade artística e o permitiu lançar trabalhos independentes, como o álbum “Sinais dos Tempos”, de 2012.
Ao longo de sua trajetória, Zé Ramalho também enfrentou desafios pessoais, como problemas de saúde e dependência química, que chegou a superar após tratamento.
Zé Ramalho é casado desde 1984 com Roberta Ramalho, união que gerou dois filhos, Linda e José. Ele tem outros quatro filhos, sendo que João Ramalho e Maria Maria são fruto do casamento com a cantora Amelinha, entre 1978 e 1983.
Fonte: Correio Braziliense