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Canudos, 128 anos depois: o que ainda fascina e intriga nesta página da História do Brasil

Cineasta baiano relembra massacre e cobra reparação histórica. “Canudos mobiliza os sentimentos mais profundos da espécie humana: que é o anseio por uma vida justa e em liberdade”, frisa

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O cineasta baiano Antonio Olavo é apaixonado por História. Mas não a das elites ou a da longínqua Mesopotâmia que se aprendia na escola. É a dos negros, indígenas e, especialmente, a de Canudos, no sertão baiano. Neste domingo, 5, o fim da guerra – ou do massacre contra um povoado – completa 128 anos.

Seu primeiro documentário, Paixão e Guerra no Sertão de Canudos, de 1993, com José Wilker no elenco, resgata a história do pregador Antonio Conselheiro a partir de relatos dos sertanejos pobres da região que o veem como um líder a favor das causas sociais, e não como um fanático.

“Conselheiro provou ser um homem de poderes importantes. Um construtor de igrejas, açudes e cemitérios. Um monarquista que não se tornou republicano do dia para a noite. Mas um homem de um carisma enorme, abolicionista, que vislumbrava uma sociedade justa e solidária”, diz Olavo. Ele acaba de coordenar o livro Canudos: Imagens Contando História, do professor e pesquisador Sérgio Guerra, a ser lançado no próximo dia 13, na Biblioteca Pública dos Barris.

Nascido no interior de Jequié, no sudoeste da Bahia, o cineasta de 66 anos conheceu Canudos quando tinha 28 e atuava como fotógrafo no Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). O histórico arraial foi destruído pelo Exército depois de uma quarta expedição enviada ao local, em 1897, e a cidade, erguida ao lado de uma represa.

Atualmente, tramita na Justiça uma ação civil pública movida por moradores contra a União pedindo reparação pelo massacre. “Canudos hoje é uma cidade com muitas fragilidades sociais em várias áreas, como saúde e educação. Precisa de reparação histórica e de espaços que valorizem a luta canudense”, comenta Olavo (foto acima).

Além de ser fascinado por tudo que cerca essa página da História do Brasil, Olavo ainda tenta achar respostas para questões intrigantes. Ele cita uma: estando acuados por uma tropa com mais de seis mil soldados que há meses os perseguiam, por que os moradores do arraial não fugiram? Milhares foram mortos e até degolados.

“Ao invés de fugir, ao contrário, as pessoas iam para Canudos. Minha interpretação é: elas conheciam a realidade externa a Canudos, de fome, miséria, opressão, escassez de direitos, e sabiam que Canudos era o oposto disso e estavam dispostas a defender esse projeto, se preciso dando a vida. Antonio Conselheiro ensinou o povo a defender uma condição de vida que eles abraçaram.”

E quantos morreram? Cerca de cinco mil soldados e a população do arraial estimada em cerca de 20 mil pessoas. Não se conhece, no entanto, o número exato de vítimas. Olavo diz que, para além do cálculo, está mais interessado em divulgar o extermínio praticado pelo Exército brasileiro, com métodos cruéis como a degola.

O pesquisador, que tem 19 filmes no currículo, defende ainda que Canudos é um tema nacional. “Canudos mobiliza os sentimentos mais profundos da espécie humana: que é o anseio por uma vida justa e em liberdade. Isso está presente na Palestina hoje, esteve presente no Vietnã, em Cuba. Está presente onde há resistência. É um movimento minoritário, mas numeroso. Você buscar uma vida livre, justa e digna, e não uma vida de exploração, de abuso, desperdício, nessa sociedade consumista, burguesa e capitalista em que vivemos.”

O nordestino, cearense Antonio Conselheiro sabia disso. Pregou, lutou e foi morto em 22 de setembro de 1897. O fim do arraial – e do sonho – se deu poucos dias depois, em 5 de outubro. Uma data para não esquecer. (Tharsila Prates)

Fonte: site Ronaldojacobina.com.br

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