O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), segue sem confirmar publicamente se será candidato à sucessão do presidente Lula (PT) em 2010, mas age como tal. Sua repentina afinidade com as raízes nordestinas é sintomática. O tucano está em pré-campanha. E o Nordeste, onde Lula tem altos índices de aprovação, tem sido alvo de suas investidas.
Depois de patrocinar eventos em torno dos 20 anos da morte do cantor e compositor pernambucano Luiz Gonzaga na capital paulista, na semana passada, Serra irá a Exu, cidade natal do “Rei do Baião”, no início de agosto. Ele participará, in loco, de novas reverências ao desaparecimento de Gonzagão.
O PSDB, que já trata o governador como “o nome” do partido para a disputa presidencial de 2010, informa que a ida a Pernambuco já estava prevista. No próximo sábado, inclusive, Serra se encontrará com o senador Sérgio Guerra (PE), presidente nacional da legenda, para acertar detalhes da visita. O encontro será em Campos do Jordão (SP).
A expectativa é de que em Exu ocorra a primeira aparição pública de Serra com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), na pré-campanha rumo ao Palácio do Planalto. Ferrenho defensor da candidatura do tucano e cotado para disputar o governo do estado em 2010, Jarbas ainda não é presença confirmada. Mas, segundo o deputado Raul Henry (PMDB), que ficará responsável por finalizar a agenda de Serra no estado, o senador deve comparecer.
Guerra e Henry não veem conotação eleitoral na ida de Serra a Exu. Argumentam que o governador sempre foi admirador da obra de Luiz Gonzaga. Por telefone, de Genebra (Suíça), o senador tucano observou, ainda, que, de qualquer modo, Serra já viria ao estado no fim do mês para participar de um seminário sobre segurança pública promovido conjuntamente por PSDB, PMDB, DEM e PPS, partidos que devem compor a base de apoio à candidatura tucana.
Mas há que se destacar que, além da boa aceitação de Lula na região (o que pode render votos à ministra Dilma Roussef, pré-candidata do PT ao Planalto), o Nordeste é emblemático do ponto de vista de imagem para qualquer presidenciável. Não só pelos 35,3 milhões eleitores ou pelo peso político dos seus nove estados. Na região estão algumas das mais fortes raízes culturais do país.
Daí o interesse de Serra em se mostrar íntimo da obra de Gonzagão, um ícone da “nordestinidade”. Tanto que, ao se referir aos shows realizados em São Paulo em homenagem ao artista, ele postou no seu perfil no Twitter, anteontem: “Perto de 10 milhões de nordestinos e seus descendentes vivem em São Paulo. Não trouxeram só trabalho. Compartilham conosco sua rica cultura”.
Por sua vez, Henry informou que se encarregou de agenda da ida de Serra a Exu por ser reconhecidamente um defensor do legado de Luiz Gonzaga. Além de ter lutado pelo tombamento do parque Asa Branca (museu que preserva a memória do artista), o deputado é autor de uma emenda de R$ 100 mil destinada à recuperação do local.