
O acordo que resultou na retirada da pré-candidatura do deputado estadual Pablo Roberto (PSDB) em Feira de Santana envolveu muitos personagens. O principal deles foi o deputado federal Adolfo Viana (PSDB), ex-presidente do ninho tucano na Bahia e figura influente na legenda nacionalmente.
No final das contas, a avaliação é de que a composição foi um jogo de jogo de ganha, ganha na oposição ao governo do Estado, e a definição, como efeito colateral, pode ter impacto na sucessão da Assembleia Legislativa, fortalecendo a posição do deputado federal Elmar Nascimento (União) na Casa.
Por meio do acordo, costurado entre Adolfo Viana e ACM Neto, o deputado estadual Pablo Roberto (PSDB) foi pressionado e aceitou retirar a pré-candidatura em Feira para ser vice da chapa encabeçada pelo ex-prefeito José Ronaldo (União). O fato surpreendeu o meio político às vésperas do período das convenções, uma vez que Pablo sempre pregou que estaria na disputa até o fim, se apresentando como terceira via, inclusive com críticas moderadas a José Ronaldo e à velha polarização no município entre o ex-gestor e o deputado federal José Neto (PT). O que, então, teria feito o deputado do PSDB mudar de posição?
O Toda Bahia ouviu diversas fontes para tentar desvendar os bastidores da negociação. A primeira constatação é que não há qualquer tipo de acordo para que José Ronaldo renuncie em 2026 visando participar de uma eventual chapa liderada por ACM Neto. Ou seja, nunca foi oferecida a Pablo a possibilidade de ser prefeito daqui a pouco mais de dois anos, em caso de vitória nas urnas em 2024.
Pablo recebeu a garantia de que, em caso de vitória, vai acumular a vice com o comando de uma secretaria da qual tenha afinidade e com força política. O deputado, que sempre integrou o grupo de José Ronaldo em Feira, já foi secretário municipal de Prevenção à Violência, de Desenvolvimento Social e de Agricultura na gestão do atual prefeito Colbert Martins (MDB), de quem, a exemplo do cabeça de chapa, também é aliado.
Além disso, há o compromisso de que o PSDB pode assumir o comando da Secretaria de Educação em Feira, nos mesmos moldes do acordo firmado entre a cúpula tucana e ACM Neto em Salvador, quando o ex-presidente da legenda e ex-deputado federal João Gualberto tinha influência sobre a mesma pasta na capital, algo que acabou no início de 2023 com a reforma administrativa feita pelo prefeito Bruno Reis (União).
Outro ponto que ajudou Adolfo Viana a convencer o aliado é que Pablo Roberto, além de questões práticas como falta de estrutura de campanha e risco de perder apoio da legenda, também garantiu o direito de escolher disputar a cadeira de deputado federal em 2026 com o apoio de José Ronaldo e do PSDB, em caso de vitória na Princesa do Sertão. Caso a dupla não vença a eleição, o tucano segue com o mandato na Assembleia.
O que também motivou Adolfo Viana articular a aliança é que o suplente de Pablo Roberto é o ex-presidente da Câmara Municipal de Salvador e ex-deputado estadual Paulo Câmera (PSDB), que assume o mandato na hipótese de vitória de José Ronaldo. Câmara também é aliado próximo de Elmar Nascimento, que não participou das negociações em Feira, mas que pode ser beneficiado, aumentando a própria rede de influência na Assembleia de seis para sete parlamentares.
É aí que a costura da oposição em Feira pode representar mais uma pedra no sapato do presidente da Assembleia, Adolfo Menezes (PSD), na tentativa de ser reeleito para o terceiro mandato como presidente da Casa, em fevereiro de 2025. Elmar é contra a recondução, e tem trabalhado para inviabilizar a articulação. Os dois são adversários ferrenhos em Campo Formoso. Pablo, ao contrário, é apoiador do projeto de Adolfo.
Ou seja, com o acordo em Feira, ganhou ACM Neto, que fortaleceu José Ronaldo depois de preterir o ex-prefeito da chapa majoritária em 2022. Ganhou também Adolfo, que vai colocar um aliado mais próximo na Assembleia e pode ampliar o espaço do PSDB no segundo maior colégio eleitoral da Bahia. Ganhou José Ronaldo, que ampliou as chances de vencer a disputa no primeiro turno. E ganhou Pablo, que pode sair maior do que entrou na disputa. Até Elmar se deu bem. Já Adolfo Menezes…
(Fonte: Toda Bahia)



