Política & Economia

Entrevista: Zé Ronaldo diz que PT não soube governar e que ele é competitivo

Ronaldo fala de suas chances na eleição, a relação com o prefeito Tarcizio Pimenta e critica o governo Wagner. Leia abaixo.

Tribuna da Bahia: Quais os seus trunfos para disputar esta eleição?

José Ronaldo: Fui vereador, deputado estadual três vezes, deputado federal e prefeitos. Sempre trabalhei na vida publica olhando a sociedade como um todo. Então, trabalho nesta linha, respeitando a todos e convivendo com todos. Sempre fiz o meu trabalho bem mais próximo até dos mais humildes, e sempre respeitando a todos. Tem algumas regiões da Bahia que sou mais conhecido, até mesmo porque fui deputado, presidente da UPB (União dos Municípios da Bahia) e viajei muito nos últimos meses pelo estado afora. Então, hoje eu tenho já um nível de conhecimento também já relativamente muito bom em outras regiões do estado que não eram aquelas que eu normalmente atuava.

TB: Qual a sua base eleitoral e que estratégia será usada para passar os atuais favoritos?

JR: Região de Feira de Santana, região sisaleira, a Região Nordeste, boa parte da Região Norte, boa parta da Chapada Diamantina e Baixo Sul e hoje tenho também já uma boa ação no Oeste da Bahia. Tenho ações menores, mas já também com boa abrangência no Sul e Extremo-Sul.

TB: Isso vai se transformar e votos suficientes para se eleger numa disputa tão acirrada?

JR: Todos quando se candidatam eles pensam e acham que vão conseguir a vitória.  Eu me candidato com a certeza do trabalho que vai ser feito. e neste trabalho eu busco a vitória. E sinto esta vontade por onde eu tenho passado. E sinto que essa vontade tem sido crescente. Concordo quando você diz que vai ser uma disputa acirrada, e vai. Acho que este ano vai ser uma disputa acirrada em todos os níveis, de Presidência da Republica a Senador. Estamos tendo uma eleição bem diferente este ano. Acho também que a eleição de governador vai para este patamar também, pelo o que estou sinto por aí Então, será uma eleição bem disputada, mas acredito que vou estar entre os dois. 

TB: Prefeitos do DEM e PSDB têm aderido às candidaturas dos adversários. Essa “debandada” pode enfraquecer ainda mais o grupo de vocês?

 

JR: Estamos tendo uma eleição muito diferente. Esta eleição é a mais diferente de todas que já passei na minha vida. Existe isso não só no Democratas e no PSDB, existe em vários partidos políticos, não só com prefeito, mas com ex-prefeitos, vereadores, parlamentares. Às vezes uns falam e fazem questão de tornar público, outros acham que é melhor não tornar público. Então, posso lhe dizer que isso está generalizado.

TB: Como está o mapa eleitoral e as visitas às bases?

JR: Esta semana estava retornando de uma viagem a Casa Nova e comentamos com Paulo Souto. Nós viajamos justamente olhando a agenda do final de campanha e o nosso maior problema hoje, achar tempo de visitar e todos os lugares que estamos sendo convidados. Desde fevereiro do ano passado, nunca faltou convite para a gente visitar. Nós já visitamos quase duas centenas de municípios, em todas aas regiões. Então, hoje, nós temos agenda feita todos os dias, de cedinho até tarde da noite. E isso o tempo todo ocupado, com o povo e com lideranças. Então, isso em momento algum nos faltou.      

 

TB: E a falta da máquina? Está difícil enfrentar uma eleição contra a máquina do governo?

JR: Já fui oposição várias vezes, já convive com isso. Em Feira de Santana e a nível estadual. Fui oposição quatro anos no governo e Waldir Pires e me elegi melhor. Convive com os dois lados da moeda. Claro que materialmente e estruturalmente falando, a diferença é muito grande, é Davi contra Golias. Esta semana, estava saindo de uma cidade na região do São Francisco e cheguei num determinado lugar para pegar um avião e na mesma da hora chegou uma autoridade de outro estado. A estrutura que estava lá para trazer a gente para Salvador em relação a esta autoridade era uma diferença muito grande. Mas, veja bem: nós estamos fazendo uma campanha junto com o povo, junto com a sociedade, conversando e dialogando diretamente com a sociedade, colocando pontos de vistas com a sociedade. Quem decide uma eleição é povo. Eu vejo cada vez mais o Presidente da República, Governador, Senador, é o próprio povo que está escolhendo. Um percentual elevadíssimo do voto está sendo livremente definido pela cabeça do próprio cidadão. Cada dia que passa isso está evoluindo mais, ninguém manda na cabeça do povo. Essa história do passado, de que alguém que dominava aqui e acolá está cada vez menor. A sociedade é dona de si. Eu sou homem público e participo dessa luta porque acredito no povo. Eu tenho fé no povo. Estou fazendo e vou mostrar, no horário da televisão, essa importância do povo no processo eleitoral. Então, a minha luta nesse processo é rigorosamente em sintonia com o povo.

TB: A que o senhor atribui a mudança de lado de ex-aliados como Otto Alencar (PP) e César Borges (PR)?

 

JR: Veja bem, acho que tudo isso passa por uma série de fatores. Isso não é um fato único, não existiu um móvito único para isso. Cada um buscou aquilo que achava que era melhor nos seus interesses pessoais.

 

TB: O senhor vai entrar num embate direto, como está tendo entre Otto e César Borges?

 

JR: A vida inteira eu fiz política em defesa da causa pública. Nunca fiz política no pessoal. Agora, agressões, eu tenho o meu estilo de resposta, não deixo de responder, mas responder em sintonia com o povo. A minha vida política todo foi sempre em sintonia com o povo.

 

TB: Como está o grupo político que representa o carlismo após a morte do ex-senador Antônio Carlos Magalhães?

 

JR: Inegavelmente Antonio Carlos foi o maior líder deste estado nos último 40 anos. Isso ninguém pode negar. Foi tão forte que nós estamos disputando uma eleição em que ele não vive mais entre nós, mas ele continua sendo debatido. Veja você mesmo fazendo a pergunta. Então, imagine a força que este homem representou na política do estado. Eu acho que muita gente na Bahia, com, certeza absoluta, continua admirando a obra que ele realizou.

TB: O senhor fez o sucessor em Feira de Santana, Tarcizio Pimenta. No entanto, ele pediu a compreensão de vocês sobre o tratamento dispensado a Geddel, Borges e até mesmo a Lula. Como o senhor analisa isso?

JR: Olha, em cada cabeça é um mundo. Acho que esse processo fica, às vezes, na cabeça do cidadão meio sem entender. Nem todo mundo pode entender isso. Realmente houve a inauguração de um comitê, ele recebeu um Presidente da República em sua cidade, como uma autoridade, e ele têm obrigação para isso. Este tudo correto aí. Agora a política é a política. Geddel é de um partido político que historicamente não tem nada a ver conosco, na cidade, embora eu também tenha relacionamento pessoal com ele. Mas nós estamos na disputa eleitoral. Ele está sendo candidato de um lado e eu estou sendo candidato do outro. Isso não quer dizer que eu não tenha relacionamento com ele, eu tenho. Afora, nós estamos de lados opostos. Espero que o meu candidato vá para o segundo turno e ele nos apóie. Então. Não posso condenar isso. Agora, eu acho que, na hora que ele é do Democratas e ele tem na cidade declarado que apoia Paulo Souto, ele tem agido desta maneira. Mas o cidadão vê ele ao lado de outro candidato, o eleitor pode ficar sem entender isso. Fica com a cabeça meio confusa: meu Deus, o que é isso? O eleitor pode ficar com isso na cabeça. 

TB: Pesquisas apontam o senhor com 9%. Está confiante? O que fazer para crescer e passar a ser efetivamente competitivo?

JR: Eu sou competitivo neste processo. Essa pesquisa me dá igual aos outros. Só tem um aí, que é o Cesar que está um pouco melhor. Se você olhar as pesquisas, na espontânea 90% não sabem quem é o candidato. Nos últimos 15 dias, diante desta pesquisa ser divulgada, eu fiz uma experiência em três regiões diferentes nos nossos encontros. Por favor, quem sabe aqui o nome de três candidatos a Senador que estão disputando esta eleição, levante o braço. Não vale o meu, que eu já disse que sou candidato. Ninguém levantou. Então, perguntei, quem sabe o nome e dois candidatos, por favor, levante o braço. Apenas uma pessoa levantou e eram mais de 300 pessoas. Então, se você perguntar uma pesquisa para deputado federal, 80% diz que ainda não sabe quem é o candidato. Porque você está fazendo os cantado, está viajando. Mas para atender ao grande número do eleitorado, só no horário eleitoral, não tem outro jeito mais. É a televisão e o rádio. Se você chegar numa determinada região, você vai ver nomes mais ventilados do que outro. Por exemplo, se você chegar na região de Feira de Santana, onde o meu nome é mais conhecido, ele é mais citado do que outros. Aqui em Salvador, já aprece outro nome mais citado do que o meu. A pesquisa foi feita com 60% ouviu o interior e 40% ouviu a capital. O eleitorado da capital não é 40%, o eleitoral da capital é 20%. Então, eu acho que houve um peso maior na capital. Mas se você olhar a da Vox Populi, eu estava em torno de 9%, a ex-prefeita de Salvador também, e o outro candidato, que foi candidato a prefeito de Salvador, 12%, então está tudo embolado, totalmente embolado. Quer dizer, isso só vai deslanchar com o horário eleitoral, eu não vejo outro caminho.      

 

TB: E quanto à eleição de Paulo Souto. Acredita em um possível segundo turno?

JR: Acredito. Eu acho que teremos uma eleição no segundo turno para governador. Acho que também temos grandes chances de termos eleição com segundo turno para a Presidência da República. Então, eu acho que estas duas eleições têm amplas chances de irem para o segundo turno.

TB: Como anda a relação entre o DEM e o PSDB. O impasse da coligação na proporcional reivindicado por vocês e negado pelos tucanos já foi solucionado ou ficaram sequelas?

 

JR: Justiça seja feita. Em momento algum o PSDB disse que faria coligação na proporcional. Eu tentei, todos nós tentamos, mesmo porque acho que todos nós temos que dialogar. E dialogamos muito, mas o PSDB entendeu, os seus candidatos entenderam – eu vou dizer nem os dirigentes-, que seria prejudicial para eles, e não aceitaram. Você pode até discordar, mas é um direito que as pessoas têm. Eu não tenho presenciado nada de animosidade e vejo Paulo Souto também se relacionando muito bem com todos.  

TB: O tempo passou e o atual governo continuou atribuindo os problemas enfrentados no Estado à “herança maldita”. Como o senhor vê essa classificação?

JR: Acho que soa ao ridículo, não é? (risos) Eu me lembro que, quando me elegi prefeito, nunca me lembrei do passado; entrei pensando no presente e no futuro. Nunca me reportei ao passado. O governante é eleito para o presente e para o futuro…

TB: Então, o PT e os aliados não souberam governar?

JR: Com certeza absoluta! Eu vou lhe dar aqui alguns exemplos práticos e bem objetivos. Quando Paulo Souto perdeu a eleição estava na Assembleia Legislativa um projeto para contrair um aumento do Banco Mundial de U$ 100 milhões, na época correspondia a R$ 180 milhões, para fazer estradas no estado. Até hoje, a maioria desses recursos não foi usado. Isso é uma herança bendita ou maldita? Bendita! O governo (Paulo Souto) deixou recursos do PRODETUR, aprovados também pela Assembleia Legislativa, e o governo (Jaques Wagner) conseguiu fazer alguma coisa, inclusive o complemento daquela estrada de Itacaré/Uruçuca, foi desses recursos. Isso é herança maldita ou bendita? Bendita! Agora, o que é que existe? O governo inaugurou algumas escolas, e posso citar alguns municípios como Queimadas, Itiúba, entre outros, que foi Paulo Souto que construiu e não inaugurou, e ele foi e inaugurou. Isso é herança maldita ou bendita? Bendita! Agora, eu não vi na Bahia ainda uma escola que foi iniciada e concluída no governo de Wagner, num estado tão grande. O governador dizia que a educação era muito melhor do que o passado. Quando completou dois anos e seis meses de governo, o governador demitiu o secretário de Educação, o Adeum (Sauer) porque disse que era incompetente. Ora, meu Deus! Como é que o secretário era incompetente e a educação estava melhor do que o passado? Ele deu o testemunho de que não estava. Recentemente um órgão de imprensa da capital fez uma matéria de três páginas dizendo que quinhentas pessoas morreram nos postos de saúde da Prefeitura de Salvador porque não conseguiram ser transferidas para as unidades de saúde da capital do estado. Onde é que está o erro do passado? A segurança pública, nos quatro anos do último governo de Paulo Souto, foram assassinadas por morte violenta no estado, em torno de 6.500 pessoas. No atual governo de Wagner, em três anos e meio, já passou de 15 mil pessoas. Onde é que está a herança maldita aí? É uma incompetência muita grande. Eu quero lhe dizer que, se não fosse os recursos e algumas ações do governo federal você não tinha nada a comemorar no atual governo da Bahia. Eu conheço obras na Bahia que foram iniciadas e deixados recursos pelo governo anterior, e que até hoje não foram concluídas.

TB: Como exemplo…

JR: Isso eu vou dizer mais na frente. Ainda e o porquê. E não foi pouca coisa não. Existe, agora, a chamada indústria do enganar por causa da eleição. O governador vai num lugar, assina uma ordem de serviço, e tem coisa que assinou há 60 dias, 90 dias, e até hoje não saiu do lugar…   

        

TB: Como avalia o governo Wagner? Por que a máquina não funciona?

 

JR: Acho que ele constituiu um governo que… Ele tem muito gosto de fazer política e não tem gosto de administrar, de fazer a parte administrativa. Acho que ele se preocupou muito no mundo político, na conquista de apoios políticos, e a outra parte ele falhou muito.

 

Por Osvaldo Lyra, com colaboração de Evandro Matos

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