Política & Economia

Em entrevista, ACM Neto admite que pode disputar governo baiano em 2014

Bahia Notícias – A convenção do Democratas da Bahia ocorrerá no próximo dia 20 de agosto. Quais são as novidades. O José Carlos Aleluia é candidato único a presidente? Vai ser discutida apenas a direção do partido na Bahia?


ACM Neto – Nós tivemos uma convenção do DEM nacional na última terça, em Brasília, que por aclamação elegeu uma nova executiva para comandar o partido, com a presidência do senador José Agripino. Concomitante a isso, nós iniciamos o processo de conversas internas no DEM da Bahia. Não há ainda uma decisão em torno do nome de quem vai ser o presidente. O deputado Aleluia é um dos nomes cogitados e, em minha opinião, reúne todas as condições para fazer um belo trabalho à frente do partido na Bahia. Porém, nós estamos ainda em processo de consulta às bases na capital e no interior. Os deputados estão conversando entre si. Eu, recentemente, dialoguei também com o ex-governador Paulo Souto e com o ex-prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo. A nossa ideia é compor uma nova direção estadual que possa sinalizar para mudanças no Democratas da Bahia, que possa oxigenar o partido e que tenha condições de abrir novos espaços no contexto político de nosso estado. Eu acredito que nas próximas duas semanas nós já teremos um desenho e um formato de como é que vai ficar essa nova direção partidária na Bahia e aí, oportunamente, vamos marcar um evento para tornar pública essa mudança.

BN – E como está o planejamento para 2012? Você planeja uma candidatura novamente para prefeito? O Aleluia também manifestou que pode ser candidato. Como é que está essa questão?

AN – Olha, o Democratas tem hoje dois nomes que reúnem plenas condições de disputar a prefeitura de Salvador em 2012. O meu nome e o nome do deputado José Carlos Aleluia. Acho que o partido em Salvador vai passar também por um processo de renovação muito grande. Nós temos hoje duas vereadoras com mandato na Câmara Municipal. Nós estamos conversando com essas vereadoras. Podem acontecer mudanças partidárias para elas também. Isso tudo está sendo feito dialogando com o partido, ou seja, de comum acordo. Tanto com a vereadora Tia Eron quanto com a vereadora Andréa Mendonça. Não existe nenhum conflito com elas duas. Mas a nossa ideia é de abrir o partido para uma quantidade grande e bastante renovada de nomes que não estão na política para serem candidatos ano que vem, aqui. Com relação à disputa da prefeitura, além da existência do meu nome e do deputado Aleluia, eu acho que nós temos que ter uma visão mais ampla do cenário político da Bahia para 2012. Por isso mesmo que eu tenho conversado intensamente com o presidente do PSDB da Bahia, o deputado federal Antônio Imbassahy, tenho conversado bastante com a direção do PPS e comecei a conversar também com os dirigentes do PMDB. Frequentemente encontro o presidente do PMDB, deputado Lúcio Vieira Lima, lá em Brasília, no plenário. Trocamos algumas ideias. O ideal, se você me perguntar: “isso já é um desenho que está construído?” Não. Tudo por enquanto é embrionário. Nós estamos ainda começando as conversas. Mas o ideal é que as oposições ao governo do Estado possam fazer um trabalho conjunto e desenhar uma estratégia conjunta para a disputa da prefeitura de Salvador e para as disputas das prefeituras das principais cidades da Bahia. Por isso, completando, eu acho que o Democratas não pode nesse momento impor um nome nem vetar qualquer nome que seja apresentado. Nós temos que sentar e ver qual é o melhor caminho para as oposições. Em 2010, as oposições não marcharam unidas. Isso talvez tenha contribuído para a reeleição do governador Jaques Wagner. Se nós pudermos corrigir esse erro, e quem sabe aproximar os projetos desses partidos, talvez isso nos torne mais competitivos.

BN – Poderia haver uma chapa de Imbassahy candidato a prefeito com o apoio do Democratas e o PMDB talvez com o vice? É possível essa conjuntura ou o Democratas vai ter realmente um candidato a prefeito e vai correr para ter o apoio dos demais partidos?

AN – Não existe nenhuma imposição da nossa parte que o Democratas tem obrigatoriamente que apresentar um candidato a prefeito. O DEM tem dois nomes fortes. Eu acho que se hoje fizermos uma pesquisa na cidade o meu nome apareceria talvez até em primeiro, portanto, com uma condição política muito favorável. Porém, eu não sou empecilho para que a gente possa construir um desenho político que, de preferência, pense 2012 olhando 2014. Então, eu entendo que as duas coisas têm que estar casadas: 2012 e 2014. Se é com o Democratas na cabeça ou na vice, se é com o PSDB na cabeça ou na vice, se é com o PMDB na cabeça ou na vice, ou o PPS, que a gente não pode excluir, ou em dado momento pode ser que a gente tenha condições de conversar com o PR, presidido pelo (ex) senador César Borges, partido que tem demonstrado uma postura de oposição na Assembleia. Como são vários partidos, eu acho que tem que ter desprendimento, a gente tem que deixar os interesses individuais partidários de lado e tentar fazer uma construção coletiva maior. Eu não serei empecilho para isso, pelo contrário. Eu sou um grande entusiasta que a gente possa fazer essa costura.

BN – Você até falou, em entrevista à Playboy, que há uma pretensão, lá no fundo, de um dia disputar a Presidência da República. Quer dizer, você pensa grande na política. O Geddel Vieira Lima também tem esse mesmo pensamento de disputar eleições majoritárias para o governo do Estado. Isso não pode futuramente criar um racha na oposição?


AN – Eu acho que existe espaço para todo mundo. Se você pensar em 2012 e em 2014, você tem: 2012 a candidatura para prefeito e para vice; Em 2014 candidaturas a governador, a vice-governador e a senador. Então você tem espaços. Veja que, na eleição de 2010, tanto a candidatura de Paulo Souto quanto a de Geddel tiveram certa dificuldade para compor as suas chapas. Então, você tinha mais quantidade de vagas de candidatos majoritários do que nomes disponíveis. Eu acho que, na circunstância em que nós nos encontramos, de oposição, é preciso haver desprendimento. Eu não escondo de ninguém. Disse à Playboy e quero repetir isso aqui, que, se depender do meu esforço pessoal a partir de agora, eu penso em disputar apenas candidaturas majoritárias. Tenho muita satisfação no trabalho que faço em Brasília, três vezes fui o deputado federal mais votado da Bahia. Graças a Deus, pude ocupar os postos mais importantes na Câmara, só que agora quero me lançar a desafios maiores. Só que não acho que isso seja conflitante com o que quer Geddel, Imbassahy ou quem quer que seja. Acho que o contrário. Se tivermos inteligência, em dado momento, pode se avançar com conversas que façam esses projetos serem complementados.

BN – Antes mesmo da convenção já se cogita uma saída do DEM da prefeitura de Salvador. Desde que o prefeito João Henrique ingressou no PP, ele demonstrou e falou isso publicamente, que queria estar mais próximo do governador Jaques Wagner. Como fica o espaço do Democratas no Palácio Thomé de Souza. Ele sai?


AN – Primeiro que o Democratas tem um espaço muitíssimo limitado na prefeitura de Salvador. Nós nunca indicamos nenhum secretário. Nesse período de governo de João Henrique, nos últimos dois anos, nós nunca fomos chamados para compartilhar de decisões estratégicas, para discutir projetos prioritários para a cidade. O prefeito não pediu apoio do partido para discutir a sua administração, a sua gestão e o seu governo. O governo é do prefeito. O que o Democratas tem em Salvador é a administração da Saltur. Empresa que tem, como principal tarefa, organizar o carnaval em Salvador. Eu acho que o Democratas, nesses três carnavais organizados por Cláudio Tinoco, conseguiu demonstrar competência e eficiência na realização da festa. Se tem uma coisa que dá certo em Salvador é o carnaval. Então, nós estamos muito tranquilos em relação à contribuição que o partido dá a cidade porque, além de ser limitada a uma área específica, dá certo. Claro que nós estamos debatendo internamente se Cláudio Tinoco permanecerá ou não na Saltur e até quando ele vai ficar. Repito: é um cargo que pertence ao prefeito, sempre disse isso. O Democratas não é dono desse cargo. E o prefeito vem fazendo avaliações, pelo menos reportou isso para mim, muito positivas com relação ao desempenho de Cláudio Tinoco na Saltur. Agora, é evidente que o prefeito, com a filiação ao PP, optou por se aproximar do governador Jaques Wagner e por fazer um movimento que coloca a prefeitura muito próxima do PT. Isso é evidente. A presença do governador no ato de filiação reforça essa aproximação. Se o prefeito vai caminhar para o apoio a um projeto do PT ou a um projeto alternativo, eu não sei. É cedo demais para falar. Da mesma forma que eu não acho que esteja pacífica a escolha do candidato do PT ou entre os partidos da base de Wagner. Afinal de contas, o PP, com o espaço que tem na prefeitura, vai querer também se colocar na disputa de 2012. Eu entendo que existem muitas dúvidas com relação ao que pode acontecer na dinâmica da administração municipal. A minha preocupação é não prejudicar a cidade. Por isso que tenho colocado recursos sistematicamente no orçamento da União, através de emendas parlamentares, para ajudar Salvador, independentemente do partido do prefeito, da aproximação dele com o governador. E, até o momento em que o Democratas entender que pode ajudar na organização da empresa de Turismo ficará, a partir do momento que entender que não tem mais como ajudar, pode sair. Claro que eu não vou antecipar nada pela imprensa, porque são conversas que nós estamos tendo dentro do partido, mas quando tivermos que avançar nessa conversa, o primeiro a ser procurado será o prefeito João Henrique.

BN – E os casos dos secretários Marcelo Abreu (Transportes e Infraestrutura) e Joaquim Bahia (Fazenda) que são do Democratas?


AN – Marcelo Abreu não é mais do Democratas, se desfiliou do partido. Quando ele assumiu a Secretaria de Trabalho e Ação Social eu fiz um pedido a ele que se desfiliasse do Democratas exatamente porque não foi uma indicação do partido. É um quadro competente, qualificado, já foi prefeito de Lauro de Freitas, um homem muito experiente, um dos bons quadros da prefeitura de Salvador. Porém não foi uma indicação do Democratas e desfiliou-se do partido no momento em que assumiu, exatamente porque o partido não teria e não tem quadros no primeiro escalão. O Joaquim, eu acho que sequer é filiado ao Democratas. Ele é um técnico de carreira, fez um belo trabalho à frente da Sefaz em Feira de Santana, na gestão de José Ronaldo. Acho que foi uma decisão acertada do prefeito João Henrique convidá-lo para assumir a Sefaz, porém foi uma decisão do prefeito. Não passou sequer por uma consulta ao nosso partido. Ao que me consta, ele é um técnico e não tem filiação partidária.

BN – Neste domingo houve o manifesto do PSD. É um partido novo que vai ter boa parte dos quadros com origem no DEM. Inclusive, você foi convidado a fazer parte desse partido. Você acha que o PSD vai conseguir se registrar até setembro, que é o prazo final para concorrer a eleição, e como é que o Democratas vai compensar as perdas que terá se esse partido for formado?


AN – Primeiro, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, já tomou a decisão de sair do partido, comunicou na sexta pela manhã isso ao ex-presidente, senador Jorge Bornhausen. Informou que está saindo do partido e que irá para esse partido novo. Existem muitas dúvidas sobre esse tal de PDB, PSD, não se sabe ainda o nome que o partido vai ter ao certo. Dúvidas jurídicas, dúvidas políticas. A primeira dúvida jurídica é “vai dar ou não vai dar tempo para a disputa da eleição de 2012”? Porque, veja, qualquer prefeito, vereador, deputado estadual ou deputado federal que assinar o ato de fundação do partido vai assinar um cheque em branco. Nem o próprio Kassab tem segurança de que vai conseguir regularizar o partido até o fim do ano. Veja porquê: Primeiro ele precisa recolher cerca de 500 mil assinaturas em pelo menos nove estados do Brasil. Todas essas assinaturas passam por uma checagem nos Tribunais Regionais Eleitorais e, é claro, o Democratas vai acompanhar cada assinatura que constar para o novo partido. Não é fácil levantar 500 mil assinaturas regulares, então, vai haver questionamentos sobre a validade das assinaturas. Isso tudo vai levar tempo. E aí você vai empurrando. Segundo: existe uma interpretação dominante na Justiça Eleitoral brasileira que aquele que tem mandato – quem não tem mandato está livre para fazer o que quiser – para sair do seu partido e fundar um novo partido, sem incorrer na infidelidade partidária, tem que assinar o primeiro documento de filiação, que será feito esta semana. Então, aqueles que ficam achando que, “olha, eu vou ficar aqui no DEM, vou ficar no PMDB, no PSDB, aguardando para ver”, não vão poder mudar, porque têm que assinar o ato de fundação. Terceiro: O PDB começa sem um segundo de televisão e sem um centavo de fundo partidário. O deputado federal que for para o PDB não pode integrar comissões na Câmara dos Deputados, porque as comissões, os cargos na mesa, são todos eles a partir do resultado das eleições de 2010. Um partido novo não tem prerrogativas parlamentares. O deputado vai ter que ficar na sobra. Então, ele não vai poder participar das comissões importantes, não vai poder ter cargo na mesa. Isso vale para as assembleias legislativas, isso vale para as câmaras municipais. Não há tempo e isso aí já há um reconhecimento do PDB fazer uma fusão com o PSB. E eu vejo até mais. Eu vejo que o próprio PSB não quer essa fusão, as principais lideranças do PSB não querem essa fusão. Aí eu pergunto: “é possível um prefeito de uma cidade, não vou nem falar tempo de televisão, tempo de rádio, ir para o PDB e ficar fora do programa de rádio?” Eu não acredito. Aí estão diversas incertezas jurídicas e você tem os problemas políticos, por quê? O eleitor fica muito atento aos movimentos que a gente faz. O eleitor, a rigor, não gosta de mudança de partido. Só que gosta muito menos ainda de mudanças de lado. Então, tem muita gente que está fazendo aposta no PDB, não para seguir a liderança de Kassab, ele tem a liderança dele em São Paulo, não é um nome nacional, mas para sair da oposição e virar governo. Por uma adesismo oportunista. Eu acho que aí existe uma coisa que é muito mais grave do que a infidelidade partidária, que eu tenho chamado de infidelidade intelectual. É a infidelidade ao espírito do eleitor. Ora, eu não posso ser eleito pela oposição e depois pular o muro e virar governo por um mero oportunismo. O que me parece mais grave desse movimento é que o Kassab era o principal aliado do Serra, amigo pessoal do Serra, fez campanha ferrenha contra Dilma; aí o Serra perde, ele vai lá e monta um partido apenas para aderir à Dilma. Eu, honestamente, acho que o meu eleitor não respeitaria a minha posição política se eu caminhasse nesse sentido.

BNOs “adesistas”, como você chama, usam como argumento de que a legislação eleitoral, e até cobram uma reforma política nesse sentido, dá muitos poderes ao presidente do partido. Queria saber a sua opinião sobre a legislação eleitoral. De fato há essa distorção ou você concorda que a lei funciona em relação à fidelidade partidária?

AN – Depende do partido. Eu não acho, por exemplo, que o presidente do PT tenha poderes plenos no PT. O presidente do PMDB não tem poderes plenos no PMDB, como o presidente do Democratas não tem poderes plenos, porque esses são partidos que se organizam em convenção. Tem muito partido no Brasil que fica apenas em comissão provisória. Nomeia uma comissão provisória e, aí sim, os poderes são plenos do presidente do partido. Não é o nosso caso, não é o caso do PSDB, não é o caso do PMDB, não é o caso do PT. Poderia citar outros tantos que assim o são. Agora, eu sustento que, na reforma política, exista um debate que garanta maior democracia interna nos partidos. Eu acho que a gente pode mudar a lei do partido sim, para intensificar a participação das militâncias. Eu acho que todas as decisões internas do partido deviam ser por voto direto do filiado. Por exemplo, eu sou a favor do sistema do financiamento público com o voto em lista, mas não para agora, porque para agora esse sistema não vale. Os partidos políticos, em sua maioria, são cartoriais, têm dono. Mas se você impõe uma reforma partidária obrigando que todo mundo faça convenção, que todas as decisões internas sejam pelo voto direto, você acaba com isso e você cria partidos fortes no Brasil.

BN – O argumento de muita gente do Democratas na Bahia, para migrar para o PSD, seria uma questão de uma possível traição sua. Chegou a ter um debate entre você e o Paulo Magalhães, sobre a sua condução na campanha, que não teria ajudado os correligionários. Como você avalia esse tipo de consideração feita pelos ex-democratas?

AN – Esse argumento é apenas do deputado Paulo Paranhos. Eu não ouvi nenhum outro falar sobre isso, apenas ele. Eu, honestamente, já, inclusive aqui no Bahia Notícias, tive a oportunidade de responder ao senhor Paulo Paranhos. E não vou mais discutir com ele. Ele não merece que eu gaste meu tempo e minha energia debatendo com ele.

BN – Considerando que a Bahia é o estado de ofensiva pela criação desse novo partido, recebeu mais apoio, como ficaria a situação do DEM local?

AN – É natural que aqui na Bahia exista esse ambiente, porque você tem hoje partidos na oposição, partidos fortes na oposição, DEM, PMDB, PSDB, PR, então esse partido novo está de olho em quadros de todos esses partidos que estão na oposição local. Esse partido novo acha que pode levar uma quantidade grande de prefeitos que querem ser adesistas e querem estar do lado de Jaques Wagner. Eu prefiro manter minha coerência, minha história, do que ter uma postura meramente adesista. E o partido novo que pegou a figura de Otto Alencar, que é vice-governador, tem uma secretaria forte nas suas mãos (Infraestrutura), portanto, está utilizando os instrumentos de governo para ajudar na fundação do PSD na Bahia. Isso tudo deriva da deficiência do nosso sistema político. Por quê? Porque o nosso sistema político privilegia a quem está no poder e quem tem dinheiro para gastar na eleição. O ano de 2010, nesse aspecto, foi uma eleição traumática para quem disputou. As pessoas botaram na cabeça que tem que ser governo. Eu não tenho isso em minha cabeça. Eu tenho, acima de tudo, respeito, uma coerência à minha condição partidária, ideológica. O que é que o Democratas vai fazer? Vai exatamente, nesse momento, encontrar oportunidades de renovação. Eu garanto a você que aqueles que saírem do Democratas vão ser julgados pelas urnas. E alguns nomes que estão sendo ventilados aí eu tenho absoluta certeza que não ganham mais uma eleição na Bahia, porque o eleitor vai julgá-los. Nós vamos trazer novas pessoas para o nosso partido. Então, uma cidade do interior onde o prefeito sai e vai lá pro PSD, esse prefeito na verdade já não votou na gente em 2010. Diversos prefeitos do Democratas não votaram em Paulo Souto em 2010. Então, vou buscar uma liderança nova, vamos atrair uma liderança nova, vamos lançar uma candidatura a prefeito no ano que vem. Vamos enfrentar o debate político com chance de vencer e certamente tenho alguém mais leal. Eu prefiro fazer essa depuração agora. Uma coisa que foi muito ruim para o Democratas em 2010 foi que permitimos certos jogos na eleição de 2008 esperando que o sujeito, lá na frente, pudesse nos ajudar, e, quando a gente viu, eram pessoas sem compromisso com o partido e foram todos apoiar Jaques Wagner como candidato a governador. Acho que o PSD pode estar nos fazendo um grande favor, porque é melhor saber quem é quem agora, antes da eleição municipal. Isso vai me dar tempo de organizar o Democratas para a eleição municipal, e ter palanques confiáveis para 2014, do que ficar em um jogo de faz-de-conta como fizeram no passado. Se aproveitaram do Democratas para se eleger e aí chegaram em 2014 deram um pé na bunda do partido.

BN – Você fez uma acusação que Otto Alencar quis se beneficiar do cargo para poder fundar o partido. De que forma ele está fazendo isso?

AN – Não, eu estou dizendo o seguinte: Que ele se aproveita de ser secretario de Infraestrutura e vice-governador. Não estou querendo fazer nenhuma acusação contra Otto Alencar. Eu acho que ele se aproveita do fato de ser vice-governador e secretário e, portanto, ter uma posição política destacada na Bahia, para atrair prefeitos, deputados e vereadores. Eu não estou julgando o que ele está fazendo. Estou apenas constatando uma coisa que é da realidade dos fatos. Como Geddel, quando era ministro da Integração, atraiu muita gente para o PMDB. Veja que esses movimentos todos só ocorrem pela precariedade do nosso sistema político eleitoral. Se amanhã eu virar governador da Bahia vai ter 100, 200 querendo bater na porta para voltar para o lado de cá. Infelizmente, são pessoas que não têm coerência nem posição. Estão com o governo qualquer que seja ele.

BN – Então, dá para você identificar agora quem são aqueles que, como você fala, “deu um pé na bunda do partido”. Na possibilidade de o partido não dar certo, do pessoal perceber que não vai dar tempo, vai haver algum tipo de perseguição para quem está lá hoje e que acabou não indo?


AN – Nós sabemos quem são. Quem assinar o ato de fundação do PDB não tem mais volta para o Democratas. É a minha posição e eu vou defender inclusive para o prefeito Kassab, que poder até responder por um processo de expulsão do Democratas. Não vamos permitir que o sujeito vá para o PDB sem ir. Vá e fique. Quem vai, vá e vá mesmo. Não pense que vai poder ficar.

BN – Você chegou a ser convidado para integrar o novo partido e aí depois (o deputado) Ronaldo Caiado falou aqui que você não ia mudar. Mas em nenhum momento você balançou e hesitou em deixar o seu partido?


AN – Para esse? Nunca. E eu me opus desde o começo desse projeto do PSD. Por quê? Porque eu tenho compromisso político com o meu eleitor. Eu não posso virar governo. O meu eleitor me elegeu para ser oposição. Eu não posso ser governo com Dilma e Wagner. Nós precisamos ter essa consciência porque a oposição hoje já está reduzida. A quantidade de deputados e senadores é pequena, mas tem qualidade. Tentativas de golpes na oposição podem colocar em risco fundamentos importantes da democracia brasileira. Eu tenho projetos, e não estou escondendo isso de ninguém, que é tentar viabilizar a candidatura de Aécio Neves a presidente da República em 2014. Ora, é o único candidato? Não é. Existem outros nomes dentro do DEM e no próprio PSDB. O de Geraldo Alckmin, o de José Serra. Dentro do DEM nós temos vários nomes que podem se habilitar a isso, mas eu enxergo hoje que o Aécio Neves é a grande novidade da oposição no Brasil. E, se ele for capaz de costurar um projeto competente, pode ser o presidente da República daqui a quatro anos. Eu entendo que Democratas e PSDB não podem ficar mais refém de uma aliança apenas entre os dois partidos. É preciso mudar a geografia partidária do Brasil. É preciso ter um diálogo mais plural. Não se deve desconsiderar todas as hipóteses que devem acontecer. Seja a hipótese de atrair partidos da base do governo para se relacionarem mais estritamente com o Democratas e com o PSDB, seja da criação de um partido de oposição novo para atrair novos quadros para a oposição. Seja também para discutir, a partir de 2012, um realinhamento, um redesenho da posição do próprio Democratas e do PSDB. O que eu acho é que não podemos ficar com a mesma equação que nós montamos para 2010 e que não deu certo.

BN – Você, como toda criança, todo menino, já botou a cabeça no travesseiro para dormir e sonhou com aquilo que planejava para o seu futuro. Quando você decidiu ser político, seguir o caminho do seu avô, deve ter vislumbrado esse tipo de situação. O que corresponde mais a esse sonho que você teve? Prefeito de Salvador em 2012, ou governador da Bahia em 2014?


AN – (Risos) Não, veja. Eu acho que a disputa de um cargo majoritário ela por si só enriquece qualquer homem. Eu considero que o momento mais importante da minha carreira política até agora não esteve em Brasília, não esteve na atuação como deputado, líder de partido, vice-presidente da Câmara, nada disso. Esteve quando eu disputei a prefeitura de Salvador. Foi a coisa que mais me marcou, que mais me entusiasmou, que mais me deu motivação na minha vida política até hoje. Com isso eu não quero dizer que é o sonho de ser prefeito, de ser governador. Eu acho que a gente deve acalentar, e é bom que o político tenha ambição. A boa ambição é saudável na política. E o político que ama política quer chegar ao máximo. Se um dia eu puder chegar à Presidência da República eu quero chegar à Presidência da República. Não significa que eu vou chegar lá. Agora, tudo isso, a disputa de um cargo majoritário, depende das circunstâncias, depende do momento. Uma coisa eu posso garantir a você. Acho muito difícil que qualquer um que se eleja prefeito venha a fazer um movimento de deixar a prefeitura para ser governador. Quem se eleger prefeito vai ter que concluir o mandato de prefeito. Vai ter que ser prefeito durante os quatro anos. Principalmente aqui em Salvador, porque vai receber uma prefeitura com problemas. Vai ter nos dois primeiros anos muitos desafios de ajuste da máquina pública, de conserto da gestão municipal. Isso pode significar, inclusive, enfrentar desgastes e tomar medidas impopulares, que são necessárias. O prefeito que assumir a gestão de Salvador em 2013, que tiver na cabeça largar para ser governador, vai quebrar a cara. Não vai fazer o que tem que ser feito. Salvador precisa de um prefeito que tenha coragem para tomar medidas essenciais para o futuro da cidade. Para a viabilidade da prefeitura de Salvador. E, isso é claro, implicará eventualmente em um desgaste político em um primeiro momento. E aí vem a virada da administração a partir do momento da Copa do Mundo. E, com a Copa do Mundo aqui, nenhum prefeito vai deixar a prefeitura. Então, tentando escapar da armadilha da pergunta, que foi até uma coisa usada em 2008, uma grande bobagem, “Neto vai deixar a Prefeitura para ser governador”, se eu por acaso entrasse no projeto de ser prefeito de Salvador seria para governar a cidade nos quatro anos. Se isso acontecesse. Vai acontecer? Não sei. Para mim, tanto ser prefeito de Salvador quanto ser governador da Bahia são duas coisas que me entusiasmam muito, que me enchem de alegria e de orgulho, e eu espero contribuir para a minha cidade e para o meu estado, seja em uma posição ou em outra. Ou continuar contribuindo como deputado. Mas eu estou disposto a arriscar, enfrentar o risco de uma eleição majoritária. Não tenho medo de ficar sem mandato, exatamente para oferecer o meu trabalho para a Bahia ou para Salvador. E aí, só o tempo e as circunstâncias políticas é que dirão.

Fonte: “Bahia Notícias”

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo