Política & Economia

Nomeação de Crivella leva governo à rota de colisão com Organização Globo

A presidente Dilma Rousseff nomeou o senador Marcelo Crivella para o Ministério da Pesca no sentido de atrair politicamente a Rede Record e os adeptos do PRB e da Igreja Universal do bispo Edir Macedo para a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo nas urnas de outubro.

A matéria foi destacada pelo Globo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, os três maiores jornais do país. No Globo escreveram Gerson Camaroti, Catarina Alencastro e Chico de Góis, foto de Ailton de Freitas.

No Estado de São Paulo, Vera Rosa, Tânia Monteiro e Rafael Moura, foto de André Dusek. Na Folha de São Paulo saiu sem assinatura. Mas com uma pesquisa do Datafolha, apontando José Serra e Celso Russomano, empatados com 21% cada um. Netinho de Paula com 13% e Fernando Haddad com 5 pontos.

Todas as três reportagens partiram do principio de que Dilma Rousseff, sob inspiração de Lula, nomeou Crivella para fortalecer Haddad. Tanto sob o prisma da ampliação do horário na televisão, quanto pelo ângulo de anular reações da Universal à cartilha contra a homofobia editada pelo MEC, interpretada como peça imprópria por seu conteúdo sexual, na visão comum.

Mas acarreta também problemas. Se pode surtir reflexo positivo, de um lado, produz efeito contrário de outro.Em primeiro lugar em face da natural reação da Rede Globo e do Jornal O Globo. Inevitável. Marcelo Crivella é sobrinho de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, como se proclama, e, ao que me consta, principal acionista e controlador de fato da Rede Record, concorrente da Globo.

Pode-se dizer que a potência política do Ministério da Pesca é muito reduzida. É verdade. Mas não é pequeno o raio de ação de um ministro de estado. A começar pelo fato de participar das reuniões ministeriais onde a presidente da República anuncia diretrizes e se decidem inúmeras questões administrativas. A Pesca pode ser diminuta, quase nada, mas a rede do pescador, no caso, é larga. Influi. E entra no Palácio do Planalto. Opina.

No caso de Crivella, passa a poder propor a transmissão de eventos, a realização de reportagens. O acesso de todos os setores do governo aos jornais da Record. Uma vantagem enorme. Não sobre a Globo, no campo jornalístico, mas sim no plano de política administrativa. Marcelo Crivella passa a integrar o setor fundamental da inside information, como se chama nos EUA. Alguém que tem acesso ao primeiro plano dos esquemas de poder.

A Organização Globo, evidente, vai reagir. Aliás, já começaram. Na edição de O Globo a que me referi, a matéria publicada destacou o fato de o senador pelo PRB-RJ nada entender de pesca. Não vai parar aí o confronto, que já era latente, e agora passou a ser mais ainda. Não se deve esquecer que a Record é a segunda em audiência no país e que retira pontos publicitários preciosos da Globo. Basta ver aos domingos.

O Fantástico atinge 20 pontos, de acordo com o último Ibope que li na Folha de São Paulo, contra 12 do Domingo Espetacular apresentado por Paulo Henrique Amorim. Sensibiliza o mercado. Sensibiliza mais ainda o fato de a Record, penso eu, por um descuido empresarial da Vênus Platinada, ter arrebatado a transmissão na TV aberta das Olimpíadas deste ano em Londres.

As consequências do ato político de Dilma Rousseff serão múltiplas. Uma delas também a reação do candidato Celso Russomanno, do PRB, cuja candidatura, com a nomeação de Crivella, pode ir para o espaço. Ou pelo menos abrir uma dissidência. Francamente, talvez a escolha do senador em águas revoltas termine produzindo mais problemas do que soluções.

Por Pedro do Coutto – Tribuna da Imprensa

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