História

100 anos: Antes de conquistar o Brasil, Luiz Gonzaga viveu em Minas Gerais

Quando chegou à capital mineira, aos 20 anos, o pernambucano estava longe de ser o Rei do Baião. Decidido a seguir carreira no Exército, veio completar o contingente do 12º Regimento de Infantaria, que se esfacelou por ter resistido à Revolução de 1930. Nas duas últimas cidades mineiras, ainda como militar, fez amigos, aprimorou o toque da sanfona e saiu pronto para se tornar o grande artista que foi, deixando saudades e, claro, muitas histórias para trás.

Nem todo mundo sabe dessa sua temporada mineira, nem mesmo alguns dos pouco mais de 30 mil habitantes de Ouro Fino, onde, aparentemente, todo mundo tem um caso para contar sobre a passagem do sanfoneiro por ali. Pela oportunidade do centenário de seu nascimento, que será comemorado quinta-feira, o Estado de Minas visitou as duas cidades do interior do estado para descobrir como Minas Gerais influenciou a formação de Luiz Gonzaga e, em Além Paraíba, na divisa com o Rio de Janeiro, encontrou o mineiro Romeu Rainho, que foi empresário do sanfoneiro por uma década e o conheceu intimamente.

“Em Juiz de Fora eu estava folgado, era o mais antigo do grupo. Comecei a fazer minhas farrinhas. Foi aí que conheci Santo Lima e Domingos Ambrósio, fazendo bonitas serenatas. Gostava de acompanhar os dois. Saíamos pela rua e tinha aquelas caboclas diferentes, vindas de toda parte do interior do estado. Foi quando peguei um acordeom pela primeira vez, das mãos do saudoso Domingos. Foi assim que fui ficando por aqui”, contou Luiz Gonzaga, em depoimento prestado a Santo e Romeu quando passou por Juiz de Fora em 19 de setembro de 1980, preservado em fita de gravador de rolo pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage.

“Santo Lima, cantor do cavaquinho, desinibido. Tinha uma inveja danada dele. Ele sabia cantar bem e eu não sabia. Mas ele me encorajou, juntamente com Domingos Ambrósio”, relembrou o artista na mesma gravação. Luiz Gonzaga já tocava sanfona de oito baixos antes de deixar o Nordeste e, por causa do serviço militar, teve de aprender a dominar também a corneta, instrumento que auxilia o comandante a transmitir ordens à tropa. “Estava dando uma de galo, fazendo da corneta pistom. Queria ser artista e danei a florear na corneta, mas me dei mal e fui em cana porque toquei bem demais”, completou.

O artista afirma que Juiz de Fora foi a cidade que mais marcou sua vida depois de deixar o Nordeste. Saiu de lá em 1937 para continuar como militar, já conhecido como “Bico de Aço” pela habilidade na corneta. “Eu já estava doido para pegar outro caminho. Minha vida sempre foi andar, meu destino era andar. Me perguntaram se eu queria entrar na formação de uma companhia que iria para Ouro Fino e eu disse: ‘Vou demais’.” Lá fez amigos, teve novos mestres musicais e, dizem, arranjou outros amores. No palco do Éden Club, centenário clube que existe até hoje, fez seu primeiro show.

Tudo isso com o acordeom que comprou de Carlos Alemão, amigo de Domingos, que foi seu primeiro professor do instrumento. Não era um primor de fole, mas foi com ele que aprendeu e desenvolveu a técnica musical, lhe permitindo extrapolar a rotina militar em serestas, bailes, bares e rodinhas de músicos pelo interior mineiro. Começava a aprender o que era ser artista e, por causa disso, quis comprar uma sanfona melhor. Escolheu uma no catálogo de um caixeiro-viajante e começou a pagá-la à prestação para buscar em São Paulo. Era golpe, mas, por pura sorte, comprou outra igual. E foi ganhar o Brasil. (Informações do Estado de Minas). 

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