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Morte de Zeca de Tapuio: líder comunitário era um amante da cultura popular da região

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Faleceu neste sábado (25), aos 87 anos, o líder comunitário rural e sambador José Leôncio das Chagas, o Zeca de Tapuio. Nascido em 19 de março de 1938, na zona rural de Barrocas, na época pertencente ao município de Serrinha, desde os doze anos de idade engajou-se em atividades coletivas. No começo, ajudando os pais nas lidas do campo, participando de adjutórios, nome local para os mutirões de ajuda aos vizinhos nos trabalhos de roçagem, preparo da terra, plantio e colheitas.

As atividades rurais comunitárias eram acompanhadas por cantos de trabalho, os bois de roça e batuques de batas de feijão e milho; no final da tarde, concluídas as tarefas, havia as trocas de bandeiras, seguidas de rodas de samba. A experiência da infância e adolescência o acompanhou durante toda a vida. Aos vinte anos de idade começou a liderar, durante os períodos de seca, as frentes de trabalho para fazer açudes, melhorar estradas e realizar outras obras essenciais para os sertanejos.

No início da década de 1970 Zeca começou a participar de inúmeros cursos para pequenos agricultores e lavradores, realizados pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC), instituição atuante em bairros da periferia de Feira de Santana e em diversos municípios da região. Orientando a sua vida pelo espírito público, Zeca ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araci (1974), tornando-se membro da sua primeira diretoria; e atuou como diretor do sindicato durante 14 anos.

Durante a década de 1990, com o objetivo de fortalecer a agricultura familiar e a economia solidária, ajudou a fundar a Cooperativa Valentense de Crédito Rural (COOPERE), instalada na cidade de Valente; bem como a Cooperativa de Crédito Rural ASCOOB COOPERAR, atuante nos municípios de Araci, Teofilândia, Tucano, Euclides da Cunha e Canudos. Foi diretor da Associação dos Pequenos Agricultores do Estado da Bahia (APAEB), núcleo de Araci, durante diversas gestões ao longo das últimas décadas. Mesmo já idoso, continuou organizando anualmente mutirões de farinhada na Casa de Farinha Comunitária, fundada por sua iniciativa, em Malhada da Areia, distrito de Tapuio, município de Araci, onde morava com a família.

No distrito de Tapuio, ajudou a fundar, em 2008, e dirigiu a Associação Comunitária de Várzea Grande, responsável pela criação de uma escola local de ensino fundamental. Zeca foi um dos precursores no uso da tecnologia de construção de cisternas para a captação da água das chuvas, que viria a ser amplamente difundida em todo o Nordeste com o Programa 1 Milhão de Cisternas, participando da administração local do programa durante os governos de Lula e Dilma.  Foi Coordenador do Projeto Água é Vida, desenvolvido pelo MOC/APAEB.

José Leôncio era praticante e amante da cultura popular, comunitária, coletiva.  Foi um dos fundadores do Movimento da Quixabeira, reunindo dezenas de grupos de samba da região sisaleira da Bahia. Orgulhava-se de dizer que a reunião preparatória para a fundação do Movimento, com a presença do pesquisador carioca Bernard von der Weid, ocorreu em Malhada da Areia, sua comunidade, no distrito de Tapuio.

Participou do LP “Da Quixabeira pro Berço do Rio” (1992), produzido por Bernard von der Weid, cantando no coro e tocando enxada na música título do disco. Foi um dos fundadores da Associação do Movimento da Quixabeira, atuando como Coordenador e Diretor durante mais de uma década. O Movimento realizou 15 eventos chamados “Festa da Quixabeira” entre os anos de 1997 e 2017 nos municípios de Valente, Araci (duas) Santa Bárbara (duas), Santa Luz, Retirolândia, Candeal, Ichu, Feira de Santana, Lamarão (duas), Água Fria e Biritinga (duas), reunindo grupos de samba rural da região.

Esse breve currículo foi por mim elaborado em outubro do ano passado, a partir de várias conversas com Zeca. Em associação com Maria José do Nascimento Santos (Dona Bibi) e sua filha Leide Santos escrevemos um projeto visando a obtenção para o Movimento da Quixabeira do Prêmio Preservar: Culturas, Identidades e Saberes Ancestrais, da Lei Aldir Blanc

Por Josias Pires/Jornalista

 

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