Quem o viu jogar recordará alguma lembrança feliz da carreira de 14 anos deste lateral-esquerdo: guerreiro, ídolo e capitão do Bahia entre os anos de 1999 e 2001, ano do último título estadual tricolor. O destino, porém, abreviou a história nos campos. Em 2002, no Juventude, o baque. Perda repentina dos movimentos corporais e diagnóstico assustador.
Jefferson, hoje 39 anos, tinha a síndrome de Behçet, doença que consiste na inflamação dos vasos sanguíneos. No caso dele, a lesão aconteceu no cérebro, afetando braços e pernas, além da fala. “Foi tudo muito difícil. Jefferson se comunicava só pelo movimento dos olhos”, conta a esposa Adriana Oltramari. “Hoje em dia, com a fisioterapia, ele já consegue comer sozinho com a mão direita. É mais uma vitória nossa”.
Jefferson passou três meses internado no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, no início da recuperação. Com auxílio de amigos, fez tratamento no Chile antes de voltar para Pato Branco, no Paraná, cidade natal. “O Bahia fez campanha para nos ajudar com a venda de CDs. Sérgio e César Sampaio, ex-companheiros dele no Palmeiras, também realizaram um jogo beneficente. Foi importante, pois conseguimos pagar a nossa casa”, explica Adriana.
A fé como alimento
Pai de dois filhos, Pedro Henrique, 14 anos, e Maria Clara, 13, Jefferson faz fisioterapia três vezes na semana. “Hoje em dia, a gente não gasta muito com os remédios. Só a equoterapia (método terapêutico que envolve cavalos) que é cara. São R$90 por cada sessão.A vida é difícil. Não teve jeito de pra continuar”, revela a esposa Adriana.
Hoje, todos vivem da aposentadoria do ex-jogador e do salário de Adriana, formada em educação física e que trabalha na academia do irmão, em Pato Branco. O filho Pedro Henrique conta como é o dia-a-dia do pai. Passeios e futebol na tevê são os programas prediletos.
Pedro estava na divisão de base do Coritiba, mas foi dispensado. A mamãe coruja faz o lobby. “Quem sabe um dia ele não vai jogar aí no Bahia?”. Pedro não esconde a vontade. “Eu vou, com certeza!”. Antes de se despedir da entrevista pelo telefone, Adriana frisa. “Um dia nós vamos voltar a Salvador e Jefferson vai agradecer a todos que rezaram e ajudaram na recuperação”.
Esperançosa, a esposa do ídolo tricolor avisa: “Ele vai voltar a falar e andar, tenho certeza disso. Ele se emociona quando lembra de tudo que passou por aí”. Todos tricolores acreditam.
“A doença avançou sem controle”
O neurologista Luís Sidônio Teixeira foi o primeiro médico a diagnosticar a síndrome de Behçet em Jefferson: “Demorou muito, quase um ano. Ele passou por diversos hospitais. Por isso, a doença avançou sem controle eas lesões no cérebro foram definitivas”.
O médico deixa claro que, apesar de Jefferson não correr risco de vida, a limitação será grande. “A doença estabilizou e é controlada através dos remédios imuno-supressores, conhecidos como corticóides. No entanto, ele não vai voltar a andar e a capacidade de fala vai ser reduzida”.
A síndrome de Behçet recebeu o nome do dermatologista turco Dr. Hulusi Behçet (1889-1948), que classificou, no ano de 1947,a doença como um complexo de sintomas de úlceras orais (aftas), urogenitais, neuro-ocular, e lesões de pele.
Seleção em 1995 e dois títulos nacionais
Jefferson começou no Botafogo de Ribeirão Preto. Além do Bahia, jogou por Palmeiras, Vasco, Botafogo-Rio, Sport, Atlético Mineiro, Cerro Porteño do Paraguai, antes de encerrar a carreira no Juventude. No Palmeiras, foi bicampeão paulista e campeão Brasileiro em 94. Foi também campeão paraguaio pelo Cerro e carioca pelo Botafogo.
Com informações do Correio Online