A quantidade de lixo é muito grande e a população, sem muitas opções, muitas vezes acaba contribuindo com o quadro de degradação.
Segundo a moradora Miraci da Silva, muitos ainda jogam lixo no local. “É impossível não jogar lixo, pois, às vezes, o carro de lixo da Prefeitura fica mais de uma semana sem passar por nossas casas”, informou a moradora.
Miraci também reclama do mau cheiro nas proximidades. Segundo ela, muitos moradores não possuem banheiros, e os que têm suas fossas são despejadas na frente de suas casas com destino ao leito do rio.
Uma grande caixa de cimento (Estação de Saneamento) que iria servir para canalizar fossas dos referidos banheiros, obra da administração do ex-prefeito Valfredo Matos, foi dada como concluída no final de seu último mandato, mas hoje está em ruínas.
Ex-secretário explica
Sobre o assunto, Jarbas Abraão, ex-secretário de Governo da administração do ex-prefeito Valfredo Matos e que acompanhou a obra, revelou que ela foi totalmente concluída.
“A construção foi toda concluída. Para entrar em funcionamento e ser inaugurada a obra dependia apenas de um motor bomba. Na época, a prefeitura solicitou à Coelba a ligação da energia, que demorou de atender. Com isso, vândalos roubaram material e destruíram, impedindo a sua inauguração. Como já foi no final da administração, nem houve tempo de refazer o que foi destruído”, disse Jarbas.
O ex-secretário acrescenta ainda que “a obra foi altamente fiscalizada pela Caixa Econômica, já que foi financiada com recursos do Banco Mundial e eles só liberavam quando davam todas as etapas por concluídas”.
Situação atual
Sobre a obra, ninguém da Secretaria de Saúde e Vigilância Sanitária do município soube responder, demonstrando total desconhecimento sobre a região e de seus problemas.
De acordo com informações da Vigilância Sanitária, não existe nenhum projeto referente à preservação e saneamento do local, embora o município tenha um setor responsável pelo meio ambiente. Um dos responsáveis (pelo setor), que não se identificou, informou que a verba para saneamento e revitalização total do rio já foi liberada em gestões passadas, mas não citou em qual.
Como tática, o prefeito Lauro Falcão sempre procura jogar em administrações passadas o que explode no seu governo. Neste caso, por exemplo, ele teve bem próximo do ex-ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, do seu partido, mas não apresentou nenhum projeto para revitalização do rio ou para resolver o problema dos esgotos no seu entorno.
Segundo o ex-secretário Jarbas Abraão, Riachão nunca recebeu, em nenhum governo, recursos para saneamento do Rio Jacuípe, até pelas dificuldades do passado, quando o governo federal não tinha recursos como atualmente para esta finalidade. “Não posso falar em relação a outras administrações, mas em relação a Valfredo, foi o único prefeito que cuidou desse assunto. Aliás, 80% do esgotamento sanitário de Riachão foi feito por Valfredo. Se todos fizessem um pouco do que ele fez a situação hoje era bem diferente”, questiona.
Contudo, Jarbas lembra que houve um projeto do tempo do ex-prefeito José Raimundo Martins para a execução de 65 banheiros. “Neste caso, o projeto só veio sair no governo de Valfredo, mas aconteceu que os recursos vieram defasados e a empresa que ganhou a concorrência (desde o governo anterior) não aceitou fazer a abra. Então, na época tentaram misturar os dois projetos, mas um não tem nada a ver com o outro”, disse.
“É como se no projeto uma coisa custasse R$ 500,00 e na época da execução estivesse por R$ 1.000,00. A empresa tentou negociar para o governo reajustar os valores, mas não aconteceu. Então, eles abandonaram a obra e Valfredo ainda entrou com um processo para resolver, mas questões políticas impediram que ele tivesse sucesso. Portanto, nesse caso, Valfredo também não tem nada a ver”, explicou Jarbas.
Os ex-prefeitos José Raimundo e Herval Campos (já falecido) não foram encontrados para falar sobre o assunto. Pela gestão atual, poucas palavras, jogar a responsabilidade no passado e com pedidos de não identificação.
O Rio Jacuípe
O Rio Jacuípe nasce no município de Morro do Chapéu, no Piemonte da Chapada Diamantina, e banha cidades como Gavião e Riachão do Jacuípe, além de povoados como o de França (Piritiba) e Barreiros (Riachão do Jacuípe), desaguando na região de Feira de Santana.
Riachão já foi alimentado por seus frutos fluviais como peixe e camarão. Por muito tempo, foram alimentação complementar de muita gente, sobretudo para os moradores do bairro Alto do Cruzeiro, uma das regiões mais periféricas e esquecidas da cidade que é banhada pelo rio.
Além disso, tem a importância econômica do rio, pois o peixe chegava a ser mandado para outras cidades em grande quantidade. Na ocasião, segundo informações de antigos pescadores, dava para viver da profissão e conviver harmonicamente com marisqueiras, tratadeiras de peixe e de fato, pois as mesmas aproveitavam a correnteza das águas para um serviço mais eficiente.
Segundo o pescador Luiz de Assis, esse foi o tempo áureo do rio, o tempo em que mulheres e meninos lavavam roupas e se banhavam nas águas do Jacuípe. Dessas lembranças surgem inspirações para músicos de artistas da região, que seguem cantando e desenhando o velho Jacuípe.
Porém, o Rio agora precisa de novas composições, de histórias de revitalização e de melhoria na qualidade de vida de sua gente.
Por Laura Ferreira