Na semana passada, o Fantástico mostrou o caos e o péssimo atendimento nas delegacias brasileiras, em estados como Bahia, Minas Gerias e Rio Grande do Norte.
Foram inúmeros flagrantes. Tinha até jaula para presos. Você deve ter pensado que aquela reportagem tinha mostrado todos os absurdos? Pois a equipe encontrou novas situações de precariedade e de extremo desrespeito. Leia adiante:
Apenas três metros: essa é a distância que separa homens e mulheres em uma carceragem no interior baiano.
Em outra delegacia do estado, o Fantástico também flagrou, frente a frente, presos e presas. Uma está grávida. E em uma cela, ainda há dois menores. “São graves violações aos direitos humanos com cidadãos, homens e mulheres, tratados que nem animais”, explica Jayme Asfora, presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB.
“Nós temos que enfrentar essa realidade, com mais investimentos, com uma atuação integrada do poder Legislativo, Executivo e Judiciário”, diz Maria do Rosário, ministra-chefe da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.
O Fantástico recebeu denúncia de vários estados: uma da Bahia informa que as delegacias estão cheias de presos e faltam policiais para investigar.
Para conferir, fomos ao estado e rodamos mais de 1,4 mil quilômetros. Na delegacia de Mata de São João, de 40 mil moradores, há muita sujeira e mato. São 43 presos, mas a capacidade é para 28.
Não há banheiro na carceragem de São Gonçalo
Na delegacia de São Gonçalo dos Campos, a 18 km de Feira de Santana, que tem 33 mil habitantes, não há banheiro na carceragem. Os presos usam sacos plásticos.
“Tem marginais custodiados com câncer, pneumonia e com doenças sexualmente transmissíveis”, conta o presidente do Sindicato de Policiais Civis da Bahia, Carlos Lima.
Agora, distrito policial de Madre de Deus: 17 mil moradores. Há dez anos que o extintor está vencido. Não só ele, todos os outros da delegacia.
Em outra delegacia, uma das principais de Salvador, não achamos nenhum extintor de incêndio. Um perigo, devido ao estado da fiação elétrica. “Trinta e cinco unidades já foram reformadas nos últimos dois anos, e temos para este ano mais 11 unidades”, explica o secretário de Segurança da Bahia, Maurício Telles Barbosa.
O distrito policial de Jabaquara, de 51 mil habitantes, está sem delegado há quase um mês. Ele tirou férias e não há substituto na cidade.
Em uma delegacia, duas presas e dois menores ficam perto de dez detentos. Homens e mulheres tomam banho de sol em horários diferentes em diferentes áreas da carceragem. Segundo os funcionários, os presos costumam chegar perto da cela das presas.
A outra delegacia onde mostramos situação parecida fica em Conceição do Jacuípe, de 30 mil habitantes. São 22h30, não tem nenhum policial civil na delegacia, e tem dez presos dentro dela. Quem faz a segurança são dois funcionários da prefeitura que não têm armas nem treinamento para isso.
Mulheres juntas com homens
Na carceragem, há seis homens e duas mulheres. Uma delas diz que está nessa situação constrangedora há dez meses: “Para ir ao banheiro, tem que colocar uma cortina no banheiro também”, ela diz.
“Elas estão em celas separadas, mas no mesmo espaço. Isso que podemos oferecer até a apreciação do poder judiciário e autorização de transferência”, explica Maurício Telles Barbosa.
A Ordem dos Advogados do Brasil vai encaminhar uma denúncia para organizações internacionais de direitos humanos, com todos os flagrantes obtidos pelo Fantástico.
“Ser mal atendido em uma delegacia de polícia está sinônimo de uma coisa normal, e isso não pode acontecer, seja preso ou não, esteja dentro da delegacia ou fora da delegacia”, afirma Jayme Asfora. Informações do G1.